Encontrei uma pedra falante. Era simpática e muito gentil. Parecia até uma pessoa. Sempre me disseram, desde de pequeno, que eu era um garoto de grande imaginação e que muitas coisas que eu afirmava testemunhar eram só invenção minha. Mesmo crescido, porém, ainda me recordo de muitas histórias que vivi no interior, reais ou fantasiosas. Essa da pedrinha é uma favorita minha.
Foi a Árvore de Mil Anos que me falou sobre ela. Tudo começou quando eu estava andando por uma estrada na fazenda de meu tio quando ouvi alguém gemer. Pensei que fosse uma pessoa, mas era uma árvore!
A pobre coitada estava bem velha, sem folhas, escura e triste. Disse-me que estava morrendo e essa bem óbvio pela aparência. Pediu que eu me sentasse e conversasse com ela sobre qualquer coisa, pois se sentia solitária.
Falou sobre sua infância, furando a terra com sua cabeça, deixando de ser uma mera semente lançada por uma andorinha para se tornar uma bela torre de madeira. Disse que tinha mil anos e que era indestrutível. Muitos homens já tentaram cortá-la, furá-la, quebrá-la, arrancá-la. Mas acabaram desistindo e cultivando uma certa admiração pela Árvore de Mil Anos.
Olhou em volto e disse como no passado, séculos antes, já houveram muito mais árvores naquele lugar. Cheias de vida! Jovens, alegres, sábias. Grande, pequenas, pesadas.
Perguntei onde eu poderia saber mais sobre o passado antes de seu nascimento. Ela me falou sobre uma pedra, velhíssima e muito sábia, que vivia perto da lagoa.
Morreu ali mesmo, aquela velha e sábia árvore. Fui então em busca da tal pedra. Será que ela era ainda mais velha?
Na lagoa, nenhuma pedra falante eu encontrei. Procurei por todos os cantos. De repente, tropecei em algo. Pude ouvir um gritinho, como se tivesse pisado no pé de alguém. Olhei e lá estava a pequena!
Resmungava muito, coçaria a cabeça se tivesse braços. Chegou a me xingar. Mas eu pedi calma e falei sobre a Árvore de Mil Anos e sua morte.
A pedrinha pareceu ter saltado. Ficou perplexa. Como um ser vivo tão velha morreria assim tão de repente? E como era sua amiga, ficou triste por não ter estado lá para dizer adeus.
Pois aquela pedra, segundo ela mesma, era a mais velha de todas. Aquela pedrinha, ali debaixo daquela árvore perto de uma humilde lagoa cheia de patos, era mais antiga do que a humanidade. Não, mais antiga do que o planeta!
Ela começou falando sobre sua origem. Tinha vindo de uma grande Rocha Mãe que existia fora do mundo há muitas eras atrás. Depois dessa Rocha Mãe colidir com outra rocha gigante, tudo se fragmentou, criando a nossa pedrinha, que veio voando até aqui.
Disse que viu muitas coisas. Se lembra de uma época em que a Terra era escura, e então houve calor e o mar surgiu. Lembrava-se dos primeiros homens, nossos ancestrais. Viu os macacos tornarem-se bípedes, usando armas e domando feras.
Reis já usaram ela para construir seus castelos, que foram então derrubados. Já fora usada por um rapaz como arma para matar seu irmão. Em cima dela, uma menina já se sentou e cantou lindas palavras.
Completou dizendo que ainda haveria mais! Pois árvores são mortais, um dia elas deixarão este mundo. Mas pedras nunca deixarão de viver. Sua historia apenas acabaria com o fim do mundo.
Mas infelizmente, tive que me despedir da pedrinha. Ela me disse que precisava continuar parada sem fazer nada e eu não queria incomodá-la mais. Disse que eu poderia visitá-la num outro dia. Quando estava saindo, olhei para trás e pude vê-la lá, parada.
Dias depois, numa manhã, fui me encontrar com a pedrinha de novo na margem do lago. Mas ela não estava lá! Simplesmente não a encontrei. Perguntei a uma raposa que estava ali perto se ela sabia do paradeiro da pedra. Ela disse que tinha visto duas crianças carregarem ela mais cedo, aparentemente haviam encontrado um belo apoio para sua gangorra.
Ser uma pedra não é fácil!
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