21 de janeiro de 1799
Algum lugar do Atlântico
Meu nome é Antônio Cunha, capitão desta embarcação vinda da costa africana de Angola, colônia de Portugal. Até ontem nossa tripulação era de 28 homens europeus e 50 escravos escravos, mas o sol nasceu hoje e encontrou 10 tripulantes mortos. Vários pretos foram mortos também, mas não sabemos quantos. Conseguimos deter o pequeno exército de negros, prendemos eles nos porões mais profundos da nossa caravela.
Não deveríamos estar fazendo isso... não somos um navio negreiro, não trabalhamos com isso. Mas o recompensa, eles disseram, seria grande. Deus tenha misericórdia, e eu peço desculpas a Portugal.
22 de janeiro
Acho que ainda estão furiosos. Agora mesmo os homens estão descendo, os escravos ainda querem se rebelar. Coelho, um dos mais jovens do nosso navio, foi atacado e seu braço está bem feio...
23 de janeiro
Parece que os negros relaxaram, graças a Deus. A maré está ficando forte, e tem bastante neblina. Assunção, nosso médico, disse que Coelho vai perder o braço, terão que amputá-lo. Pobre rapaz.
Estou com medo.
24 de janeiro
Os homens ouviram uma estranha cantoria lá embaixo, parece que os negros estão realizando uma espécie de ritual. Coisa do diabo, com certeza. Mas Brito disse que não tem problema, não devemos nos preocupar. Eu confio em Brito, é um homem sensato.
Conseguiram amputar o braço esquerdo de Coelho. Achei ele calmo demais.
A maré está um terror, a neblina é muito densa. O vento parece sussurrar palavras sombrias nos nossos ouvidos.
25 de janeiro
Não tenho muito a declarar... Santoro desapareceu, ele simplesmente sumiu. Alguns dizem ter visto ele se jogar nas ondas.
26 janeiro
Estamos perdidos. Acho que sim.
27 de janeiro
Passei a maior parte do dia dormindo. Castro nem fala mais, Rodrigues sente dores pelo corpo. Tem umas risadas, no ar... eu não sei. Me sinto pesado.
28 de janeiro
Hoje eu consegui me levantar melhor, se me entendem... mas ainda estou com sono. Parece que estamos todos doentes. Estamos com fome também. Tudo parece tão lento, a comida tem um gosto ruim...
Preciso escrever que Araújo avistou de manhã uma terra no horizonte, ao norte, que parecia promissora. Acho que a neblina está enfraquecendo. Graças a Deus, eu nem acredito que precisamos perder 14 homens nesta viagem.
29 de janeiro
Terra, finalmente. Deve ser uma ilha não muito grande, mas existe vida aqui. E tudo é agradável do que no maldito navio. Vamos passar uns dias aqui.
2 de fevereiro
O barco sumiu. Eu não sei o que houve, ele simplesmente se foi. Passamos alguns dias aqui, estava bom demais e agora, algo diabólico assim aconteceu. O barco se foi, os escravos se foram, tudo que tínhamos se foi, e eu nem sei onde estamos!
5 de fevereiro
Assunção enlouqueceu. O nosso médio ficou LOUCO! Ele fala de fantasmas, de espírito escuros que nos caçarão. Muitos estão loucos. Os dois irmãos franceses que tínhamos a bordo sumiram no mato. Rodrigues, Ferreira e Araújo foram ver se encontram eles. Espero que não achem os cadáveres!
7 de fevereiro
Ontem eu vi um maldito barco no horizonte, mas estava tão longe...
A vida está horrível aqui. Tem mosquitos, animais selvagem (javalis, onças, cobras) e uma.... ah. Eu odeio esse lugar. Não sei por quanto tempo sobreviveremos.
8 de fevereiro
Encontraram os corpos dos dois irmãos franceses... Pierre e Emmanuel. Estavam secos, magros mesmo, como se o Satanás tivesse arrancado a alma deles. Deus os tenha. Agora somos apenas 12.
9 de fevereiro
Assunção agora anda apenas na praia, como um louco, nu, gritando contra o mar. Meu Deus do céu...
Coelho é a pessoa mais corajosa e sã depois de mim, ele é um rapaz confiável. O resto ou está fraco, abatido ou está fora das faculdades mentais.
10 de fevereiro
Eu e Coelho decidimos que nós deveríamos subir um grande morro no centro da ilha, para assim ter uma melhor vista do mar. É uma boa ideia ficarmos lá.
Mas Assunção não quis ir, ele continua lá gritando contra o mar, sem roupas, doido.
13 de fevereiro
Finalmente chegamos. Demorou três dias. Tivemos o imprevisto de Valdéz, nosso espanhol, ter quebrado a perna ao escorregar em uma ladeira. Depois veio uma tempestade terrível, ficamos com muito frio.
O topo deste morro é bastante alto, mais alto do que eu imaginava. Temos uma boa vista. Se acendermos fogo aqui, um navio que se aproximar poderá nos perceber e vir nos resgatar.
14 de fevereiro
Acendemos um fogo ontem de noite, mas nada. Vamos viver aqui em cima. Brito teve a ideia de construir uma embarcação para sair da ilha, mas eu acho que ele está louco. Não é possível fazer isso, nem temos madeira suficiente.
15 de fevereiro
Nóbrega e Alexandre encontraram umas árvores lá atrás, umas frutas boas elas dão, bem saborosas. Mas Castro e Brito não quiseram comer, eles me parecem muito sensatos.
Estou rio enquanto escrevo isto. Não rio a semanas.
16 de fevereiro
Nós acordamos nesta madrugada passando mal, muito mal. Foram as malditas frutinhas. Ainda estou muito mal, vou dormir.
19 de fevereiro
Ficamos dois dias com febre alta e muita dor. Nunca mais encostaremos nas frutas, nunca.
Os únicos que não demonstraram sintomas foram Brito e Castro, eles nem comera. Pra falar a verdade, eles andam muito juntos ultimamente, quase que só conversam entre si e dormem afastados.
Mas enfim, ontem de noite Araújo avistou um barco que estava bem perto. Nós acordamos para ver, mas já estava longe. Ainda há esperança!
Sinto falta de Assunção, um bom amigo ele era. Acho que ele não está mais vivo.
21 de fevereiro
Faz um mês desde a revolta dos escravos.
Os rapazes pegaram um enorme javali hoje.
23 de fevereiro
Uma neblina apareceu hoje. Está fazendo muito frio.
24 de fevereiro
Nem consigo me manter em pé com este vento. Está frio...
Uma neblina surgiu.
26 ou 27 de fevereiro
Brito e Castro dizem que construirão um barco. Eles começaram a derrubar árvores. A neblina tomou conta de tudo.
Começo de março
Muitos outros estão se juntando ao projeto de Brito e Castro, de construir uma embarcação. Eles não falam muito. Ainda nem vi esse barco.
3 ou 4 de março
Desgraçados, o que eles estão fazendo? Não podem me desrespeitar. Eu não dei ordens para construir uma embarcação nesta ilha! A minha ordem era ficar aqui e continuar esperando pelo navio de resgate
Março
Não vou tolerar que alguém saia de perto de mim. Espanquei Valdéz por tentar descumprir minhas ordens. Mas é isso que acontece.
Meio de março
Só Coelho ainda me respeita. Todos os outros moram agora do outro lado, filhos da mãe...
[data não definida]
Coelho acordou morto. Acho que ele não aguentou o frio. Culpa daquele desgraçados do outro lado.
[data não definida]
Não aguentei, fiquei com fome e fui ver o que havia do outro lado da ilha. Quando cheguei o barco estava partindo, indo embora, um gigantesco navio! Como é possível?
[data não definida]
Ouço vozes estranhas. A neblina está tão forte, nem vejo minha mão.
Avistei estranhas figuras. Figuras negras...
[data não definida]
Estão me perseguindo, os espíritos negros, não sei se sobrevivo... São muitos
Fim do diário do capitão Antônio Cunha. Meses depois uma navio português em sua procura chegou na ilha e encontrou os restos de Cunha em uma caverna, junto com seu diário.
Augusto Brito, porém, nunca mais foi visto, e nem o resto da tripulação.
15 de junho de 2017
14 de junho de 2017
A Prisão Existencial.
É duro pensar como vivemos em um mundo cheio de histórias sobre anjos, diabos, fadas, monstros e deuses mas ainda não ter nenhum prova da existência de tais criaturas.
É como se estivéssemos privados da verdade... é como uma prisão!
É o que eu chamo de prisão existencial, um dos aspectos mais assustadores dessa vida bandida. É o estado onde você vive uma verdade mas que não pode provar se é verdade ou não! É terrível, e o pior é que isso é vida. Eu não estou falando só de religião, mas de vários aspectos da vida como a política e filosofia ou moral.
O comunista tem certeza que sua ideologia é a melhor? E quem pode provar que sua moral é importante e verdadeira?
A única forma de fugir desta prisão é o suicídio, mas vamos concordar que isso é um tanto inadequado, além do mais se matar só para ver o que há do outro lado não é uma atitude muito cristã.
Boa sorte!
É como se estivéssemos privados da verdade... é como uma prisão!
É o que eu chamo de prisão existencial, um dos aspectos mais assustadores dessa vida bandida. É o estado onde você vive uma verdade mas que não pode provar se é verdade ou não! É terrível, e o pior é que isso é vida. Eu não estou falando só de religião, mas de vários aspectos da vida como a política e filosofia ou moral.
O comunista tem certeza que sua ideologia é a melhor? E quem pode provar que sua moral é importante e verdadeira?
A única forma de fugir desta prisão é o suicídio, mas vamos concordar que isso é um tanto inadequado, além do mais se matar só para ver o que há do outro lado não é uma atitude muito cristã.
Boa sorte!
8 de junho de 2017
Deus e o Problema da Incapacidade
Nos últimos meses eu tenho desenvolvido novas teorias a respeito de Deus e Sua natureza sobrenatural. Meu outro post cobriu muitas de minhas ideias e conceitos teológicos, mas agora eu quero explicar essas duas teorias minhas.
O que eu quero explicar é como Deus pode agir neste mundo sem ser "visto". Ele não tem forma nem tamanho, mas é dito como onipotente. Se é assim, como as coisas materiais são modificadas por Ele?
Aí entra o problema da incapacidade.
Eu criei este conceito. Trata-se da falta de poder que Deus tem em alterar as nossas vidas de forma direta. É difícil entender, mas eu tenho um bom exemplo:
Um homem, depois de sair de um festa, está bêbado e decide dirigir até em casa. Seus amigos, após saberem que ele saiu embriagado, decidem rezar pelo homem. Como Deus pode ajudar?
Existem duas formas que Deus poderia agir aqui. Primeiro, Ele pode agir como o Deus gnomo, ou Ele pode dar uma de DeusLorean. Vou explicar o que cada um desses termos significa.
Deus gnomo: de acordo com essa teoria, Deus só pode agir em nosso mundo em uma escala molecular ou até atômica. É por isso que todas Suas ações são tão sutis. Ele é capaz mover pequenas estruturas invisíveis aos nossos olhos, mudanças que terão um enorme impacto.
Esta teoria defende também que a nossa química emocional é alterada por Ele. Assim explicamos como as orações ajudaram o homem embriagado que saiu dirigindo. Deus mexeu em sua cabeça e alterou seus sentidos, diminuindo ou anulando a embriaguez. Isso explica como Deus "toca" na mente de algumas pessoas (ou no coração).
Particularmente, não gosto dessa teoria. Ela diminui demais o Seu poder, fazendo d'Ele apenas um... gnomo, um gnomo divino.
DeusLorean: quem já assistiu De Volta Para o Futuro sabe porque esta teoria tem esse nome. No filme de Robert Zemeckis, a máquina do tempo é um DeLorean dos anos 80, um carro que fez bastante sucesso. Então fiz um jogo com as palavras.
Esta teoria afirma que Deus é um viajante do tempo. Você leu direito. No caso do nosso motorista embriagado, Deus voltou no tempo e diminuiu a dosagem de cerveja tomada pelo homem, fazendo dele mais sóbrio. Sabe o que é mais legal? Ninguém percebeu isso.
Se você já assistiu De Volta Para o Futuro, seja o I ou II, sabe que apenas os viajante do tempo (Marty e Doc Brown) são cientes das mudanças no tempo. Os que ficam nas suas linhas de tempo não percebem a alteração dos eventos causados pela viagem de Marty e Doc.
Deus é Marty e Doc, nós somos o resto dos personagens. Isso porque não percebemos que Deus volta no tempo e muda as coisas.
Mas não fique achando que o trabalho de Deus é fácil. Ele não só muda os eventos do passado, mas como toda a estrutura do universo. Isso mesmo, desde o início, para que assim as coisas ocorram de outra maneira.
No meu exemplo, Deus não só diminuiu a dosagem, como mudou o passado alcoólatra do homem, para isso ele fez a família dele mais rica, pra isso ele nasceu em outra cidade, pra isso a região onde ele vive foi colonizada de outra maneira, e assim por diante até o começo do universo.
Vivemos constantemente em um mundo paralelo, sempre em mudança, mas não percebemos.
É de quebrar a cabeça, eu sei. Mas é uma teoria que destrói totalmente o problema da incapacidade. Também pode jogar a favor dos cristãos. Como explicar a Arca de Noé? Podemos dizer que nunca aconteceu em nossa linha temporal!
Espero que tenham entendido, esse post é muito importante para entender a natureza de Deus. Até a próxima!
O que eu quero explicar é como Deus pode agir neste mundo sem ser "visto". Ele não tem forma nem tamanho, mas é dito como onipotente. Se é assim, como as coisas materiais são modificadas por Ele?
Aí entra o problema da incapacidade.
Eu criei este conceito. Trata-se da falta de poder que Deus tem em alterar as nossas vidas de forma direta. É difícil entender, mas eu tenho um bom exemplo:
Um homem, depois de sair de um festa, está bêbado e decide dirigir até em casa. Seus amigos, após saberem que ele saiu embriagado, decidem rezar pelo homem. Como Deus pode ajudar?
Existem duas formas que Deus poderia agir aqui. Primeiro, Ele pode agir como o Deus gnomo, ou Ele pode dar uma de DeusLorean. Vou explicar o que cada um desses termos significa.
Deus gnomo: de acordo com essa teoria, Deus só pode agir em nosso mundo em uma escala molecular ou até atômica. É por isso que todas Suas ações são tão sutis. Ele é capaz mover pequenas estruturas invisíveis aos nossos olhos, mudanças que terão um enorme impacto.
Esta teoria defende também que a nossa química emocional é alterada por Ele. Assim explicamos como as orações ajudaram o homem embriagado que saiu dirigindo. Deus mexeu em sua cabeça e alterou seus sentidos, diminuindo ou anulando a embriaguez. Isso explica como Deus "toca" na mente de algumas pessoas (ou no coração).
Particularmente, não gosto dessa teoria. Ela diminui demais o Seu poder, fazendo d'Ele apenas um... gnomo, um gnomo divino.
DeusLorean: quem já assistiu De Volta Para o Futuro sabe porque esta teoria tem esse nome. No filme de Robert Zemeckis, a máquina do tempo é um DeLorean dos anos 80, um carro que fez bastante sucesso. Então fiz um jogo com as palavras.
Esta teoria afirma que Deus é um viajante do tempo. Você leu direito. No caso do nosso motorista embriagado, Deus voltou no tempo e diminuiu a dosagem de cerveja tomada pelo homem, fazendo dele mais sóbrio. Sabe o que é mais legal? Ninguém percebeu isso.
Se você já assistiu De Volta Para o Futuro, seja o I ou II, sabe que apenas os viajante do tempo (Marty e Doc Brown) são cientes das mudanças no tempo. Os que ficam nas suas linhas de tempo não percebem a alteração dos eventos causados pela viagem de Marty e Doc.
Deus é Marty e Doc, nós somos o resto dos personagens. Isso porque não percebemos que Deus volta no tempo e muda as coisas.
Mas não fique achando que o trabalho de Deus é fácil. Ele não só muda os eventos do passado, mas como toda a estrutura do universo. Isso mesmo, desde o início, para que assim as coisas ocorram de outra maneira.
No meu exemplo, Deus não só diminuiu a dosagem, como mudou o passado alcoólatra do homem, para isso ele fez a família dele mais rica, pra isso ele nasceu em outra cidade, pra isso a região onde ele vive foi colonizada de outra maneira, e assim por diante até o começo do universo.
Vivemos constantemente em um mundo paralelo, sempre em mudança, mas não percebemos.
É de quebrar a cabeça, eu sei. Mas é uma teoria que destrói totalmente o problema da incapacidade. Também pode jogar a favor dos cristãos. Como explicar a Arca de Noé? Podemos dizer que nunca aconteceu em nossa linha temporal!
Espero que tenham entendido, esse post é muito importante para entender a natureza de Deus. Até a próxima!
5 de junho de 2017
O Julgamento
Piauí, 1918
Foi descoberto que Maurício, o negro que levou um tiro, estava de namoro com a filha do Coronel Silvestre. Este dizia que Maurício havia invadido sua propriedade.
"Não sou odiador de negro", disse o Coronel no dia do julgamento, "minha filha do meio, a Anastácia, tem caso com um rapaz de cor mas que é trabalhador".
Aí então foi revelado que esse namorado de Anastácia era ninguém menos que o próprio Maurício, que havia penetrado na fazenda do Coronel apenas para ver sua amada.
Um tiro na coxa, rapaz quase morre.
Silvestre brigava com sua filha, "por que não me contaste?", e ela dizia que o pai era um tolo desatencioso.
O advogado de defesa de Silvestre era ninguém menos que Júlio. Vinte e cinco anos, recém formado, jeito de maricas mas peito de homem (quando ele estufava).
No dia do julgamento, um lado do júri gritava "enforca o preto bandido", e o outro gritava "prende o Coronel e deixa ele na sala solitária por dois meses." Este último grupo era na maioria formado pela família de Maurício (era grande; ele tinha seis irmãos, quatorze tios e trinta e nove primos; mas eles todos não estavam lá) e os pobres da região que sofriam nas mãos do Coronel Silvestre (este fazia voto de cabresto).
O outro grupo era do lado do Silvestre, é claro, e eram muito racistas.
O advogado que defendia Silvestre era um homem baixo e gordo, mas de olhar furioso. Na hora de falar, o que ele disse foi: "O réu Maurício é acusado de invadir a propriedade do Sr. João Silvestre da Silva, além de estar em relacionamento com uma moça branca. Isso não é crime onde vivemos, pelo menos não no papel, mas todos aqui sabem que gente branca e negra não dão certo juntas. Por isso, acredito que o jovem... marginal... Maurício merece o enforcamento."
Uma porção do júri aplaudiu. Júlio disse: "Isso é ridículo! Maurício não tinha a intenção de roubar nada ao adentrar na propriedade do Coronel, tudo que ele queria era ver a Anastácia. E relacionamentos como esses aqui não são crimes de forma nenhuma, nunca foram. Poucos apoiam isso, compare a composição do júri. Eu não defendo a prisão de Silvestre e muito menos a morte de Maurício! Mas sim eu acredito que vinte mil contos de réis seriam o bastante para deixar Maurício e sua família felizes."
Aplausos. O juiz pede por silêncio.
É hora do júri votar... composto por cinquenta pessoas, quarenta e um votaram para a proposta de Júlio, apenas oito defenderam o enforcamento de Maurício.
Com a ajuda da democracia e da boa defesa, Maurício foi liberto. Ele não continuou o namoro com Anastácia, mas pegou seu dinheiro e se mudou com a família para a Bahia.
Silvestre resolveu ergues altos muros ao redor de sua fazenda. Anastácia só foi namorar de novo aos trinta e cinco anos!
Quanto a Júlio... algumas semanas depois ele começou a visitar bares e se embriagar. Em uma bairro ordinário de Teresina, ele disse a um velho que mal o ouvia: "eu livrei um negro da cadeia porque o povo daqui não é racista. Sabe o que é engraçado? É que poderia muito bem ter sido o contrário. É o mundo em que vivemos, assim pensamos, é nossa verdade..."
Bebeu um gole.
"Sabe o que ainda é mais engraçado? Que o negro desgraçado nem me agradeceu!"
E desmaiou de bêbado!
FIM
Foi descoberto que Maurício, o negro que levou um tiro, estava de namoro com a filha do Coronel Silvestre. Este dizia que Maurício havia invadido sua propriedade.
"Não sou odiador de negro", disse o Coronel no dia do julgamento, "minha filha do meio, a Anastácia, tem caso com um rapaz de cor mas que é trabalhador".
Aí então foi revelado que esse namorado de Anastácia era ninguém menos que o próprio Maurício, que havia penetrado na fazenda do Coronel apenas para ver sua amada.
Um tiro na coxa, rapaz quase morre.
Silvestre brigava com sua filha, "por que não me contaste?", e ela dizia que o pai era um tolo desatencioso.
O advogado de defesa de Silvestre era ninguém menos que Júlio. Vinte e cinco anos, recém formado, jeito de maricas mas peito de homem (quando ele estufava).
No dia do julgamento, um lado do júri gritava "enforca o preto bandido", e o outro gritava "prende o Coronel e deixa ele na sala solitária por dois meses." Este último grupo era na maioria formado pela família de Maurício (era grande; ele tinha seis irmãos, quatorze tios e trinta e nove primos; mas eles todos não estavam lá) e os pobres da região que sofriam nas mãos do Coronel Silvestre (este fazia voto de cabresto).
O outro grupo era do lado do Silvestre, é claro, e eram muito racistas.
O advogado que defendia Silvestre era um homem baixo e gordo, mas de olhar furioso. Na hora de falar, o que ele disse foi: "O réu Maurício é acusado de invadir a propriedade do Sr. João Silvestre da Silva, além de estar em relacionamento com uma moça branca. Isso não é crime onde vivemos, pelo menos não no papel, mas todos aqui sabem que gente branca e negra não dão certo juntas. Por isso, acredito que o jovem... marginal... Maurício merece o enforcamento."
Uma porção do júri aplaudiu. Júlio disse: "Isso é ridículo! Maurício não tinha a intenção de roubar nada ao adentrar na propriedade do Coronel, tudo que ele queria era ver a Anastácia. E relacionamentos como esses aqui não são crimes de forma nenhuma, nunca foram. Poucos apoiam isso, compare a composição do júri. Eu não defendo a prisão de Silvestre e muito menos a morte de Maurício! Mas sim eu acredito que vinte mil contos de réis seriam o bastante para deixar Maurício e sua família felizes."
Aplausos. O juiz pede por silêncio.
É hora do júri votar... composto por cinquenta pessoas, quarenta e um votaram para a proposta de Júlio, apenas oito defenderam o enforcamento de Maurício.
Com a ajuda da democracia e da boa defesa, Maurício foi liberto. Ele não continuou o namoro com Anastácia, mas pegou seu dinheiro e se mudou com a família para a Bahia.
Silvestre resolveu ergues altos muros ao redor de sua fazenda. Anastácia só foi namorar de novo aos trinta e cinco anos!
Quanto a Júlio... algumas semanas depois ele começou a visitar bares e se embriagar. Em uma bairro ordinário de Teresina, ele disse a um velho que mal o ouvia: "eu livrei um negro da cadeia porque o povo daqui não é racista. Sabe o que é engraçado? É que poderia muito bem ter sido o contrário. É o mundo em que vivemos, assim pensamos, é nossa verdade..."
Bebeu um gole.
"Sabe o que ainda é mais engraçado? Que o negro desgraçado nem me agradeceu!"
E desmaiou de bêbado!
FIM
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