14 de janeiro de 2019

Um Desastre Chamado Under the Dome

No final de 2013 eu tive contato pela primeira vez com Under the Dome, série da CBS baseada em um livro de Stephen King. Me lembro de ter ficado fascinado com o enredo e a cada episódio a tensão e suspensa aumentavam. A história gira em torno de uma pequena cidade no estado americano de Maine que é, um dia, cercada por um domo misterioso, deixando todos em Chester's Mill apavorados. Mas no final da série, quem ficou apavorado foi o telespectador.


Eu assisti a série de novo, dessa vez até a terceira temporada. Me arrependo das horas perdidas. Me lembro que a série tinha uma boa pegada de suspense, pelo menos na primeira temporada. Não haviam tantos absurdos e parecia que ela tinha uma direção.

Como já disse, Under the Dome conta a história de uma pequena cidade no interior, Chester's Mill, cujos habitantes se veem engaiolados por um gigantesco domo. Agora presos, eles precisam aprender a sobreviver unidos, em uma cidade onde nenhum segredo ficará a salvo.

Com o passar da série, os protagonistas vão descobrindo vários mistérios e segredos acerca do domo, desvendando sua natureza. No começo é interessante, mas nas temporadas seguintes a história vira uma bagunça, com vilões virando mocinhos e então vilões de novo, personagens aparecendo do nada e outras coisas sem pé nem cabeça.



Vamos analisar, em passos, porque Under the Dome é um fiasco.

1. Personagens


Eles são muito estúpidos.

Somos introduzidos, na primeira cena, a Barbara Dale, um assassino contrato que está em fuga e acaba em Chester's Mill no dia em que o domo cai. Ele se envolve então com Linda, uma repórter local, que está sempre na cola de James Rennie, único vereador na cidade, pai de Júnior, garoto psicótico que sequestra Angie McAllister, irmã de Joe.

Uma crítica comum se deve ao fato dos personagens se comportarem de maneira estúpida, principalmente Linda, uma policial que parece sempre estar atrapalhando os heróis. 

Os cidadãos da cidade como um todo são muito idiotas. As coisas acontecem em Chester's Mill e o povo não parece se unir para fazer algo, eles não parecem ter reação as tramagens do vereador Big Jim. Só assistindo para entender.

2. Trama é bizarra e é diferente do livro


No livro, o domo é colocado por alienígenas para observar os humanos, como uma diversão e um estudo. Na série, se trata de uma espécie de colônia onde um vírus alienígena, chamado a Família, pode se proliferar. 

Mas parece que os planos e objetivos do domo mudam ao decorrer da série. Na primeira temporada parece algo mágico, na segundo nós temos a impressão dele ser relacionado com a personagem Melanie, e já no terceiro se transforma em uma colônia alienígena. Fica mais esquisito quando aparece um ovo, um buraco sem fundo no porão de uma escola e uns casulos onde as pessoas da cidades são colocados para viver uma realidade paralela.

Isso sem falar de todos os pontos abandonados, como as estrelas rosadas, borboletas e alienígenas tomando formas humanas.

Ah...

3. A série se estendeu por muito tempo


Três temporadas e mal precisavam de uma. Talvez a razão da história ser tão ridícula é porque Under the Dome se enrolou por muito tempo. E eu li uma notícia dizendo que os produtores queriam fazer uma quarta temporada! Mas graças aos baixíssimos índices de audiência, a série foi cancelada.

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Esses são os motivos principais. Mas só assistindo a série para entender. Ela é barata, tem um roteiro barato e atores baratos (péssima atuação). Dá pra dizer que a primeira temporada é aceitável, mas na segunda as coisas começam a desmoronar e na terceira é simplesmente tosca. Assista com sua conta em risco.

12 de janeiro de 2019

A Porca e o Primeiro-Ministro: Black Mirror

O que é mais importante? Seu caráter ou a vida de alguém? E se a vida de uma pessoa muito importansse só pudesse ser salva caso você fizesse sexo com um suíno para milhões de pessoas assistirem? Essa é a premissa de The National Anthem, primeiro episódio da série Black Mirror


O episódio nos apresenta o primeiro-ministro britânico, Michael Callow, que se encontra no meio de um dilema mental. A princesa Susana acaba de ser sequestrada por um inimigo desconhecido e sua vida só sera salva se Callow fizer sexo ao vivo em rede nacional com uma porca até as quatro da tarde.

É uma história assustadora, só de pensar em estar na pele do primeiro-ministro já é de arrepiar. Mas é claro que, inicialmente, ele rejeita essa opção. Mas a história se desenrola até um ponto onde não parece haver saída.

A trama, no meu entender, gira em torno da ideia de responsabilidade e consequência, e também de como nossa posição afeta a forma como as pessoas nos veem. Michael Callow ocupa o cargo político mais importante do país, e quando se vê nessa situação ele gera uma comoção gigante.

Mas e se outra pessoa tivesse feito isso? E se uma pessoa menos "importante" transasse com uma porca, será que todos iriam se importam. Claro que não, não tanto como o primeiro-ministro do Reino Unido.

Além do mais, mesmo durante a cena de sexo com a porca, milhares, se não milhões, continuam assistindo. A sensibilidade não existe mais em uma situação dessa, uma curiosidade e sadismo bizarros.

Fiquei tão impressionado pelo episódio que decidi escrever uma crítica. Certamente, minhas expectativas foram superadas. Vale muito a pena e não posso esperar para ver os outros episódios dessa série antológica.

9 de janeiro de 2019

Bird Box: Não Abra os Olhos!



Todo mundo estava falando desse filme novo da Netflix, Bird Box, que estava fazendo muito sucesso. Uma trama sobre pessoas que ao ver criaturas sobrenaturais viravam psicóticas e suicidas até que chamou minha atenção, mas achei que era só um filmeco de fim de ano feito para agradar jovens em férias. Até que uma tarde, eu, um jovem de férias, se viu entediado e decidir dar uma olhada em Bird Box (Caixa de Pássaros).

A história é sobre Melorie (Sandra Bullock, que lembra a Glória Pires), uma mulher grávida que se encontra no meio de uma crise apocalíptica. Criaturas misteriosas, que não são mostradas no filme, fazem as pessoas se matarem ao serem vistas. Ela passa uma metade do filme presa em uma casa com um grupo de sobreviventes, todos fazendo o possível para não verem essas entidades.

O conceito é interessante, certamente. Mas alguns perceberam a semelhança entre o enredo de Bird Box e outros dois filmes: Um Lugar Silencioso e Fim dos Tempos. Nesse último, dirigido pelo desastroso M. Night Shaymalan, a humanidade também sofre uma crise de suicídios causada por uma força da natureza invisível. Em Um Lugar Silencioso, os personagens são obrigados a não fazerem barulho (em contraste com o "não verem" do filme da Netflix). Eu não vi Um Lugar Silencioso, mas posso dizer que Bird Box supera Fim dos Tempos (em TODOS os sentidos, pois aquele filme é muito ruim).

Outra coisa que eu percebi foi a presença de uma agenda. Um personagem interpretado por John Malcovich diz, em certo ponto, que eles "estão fazendo o fim do mundo grande de novo", uma referência ao discurso de campanha de Donald Trump, o que não me surpreendeu vindo de um personagem que é uma caricatura de um eleitor de Trump. Também temos um casal gay e um inter-racial no filme. Mas isso não o torna pior, é só um detalhe.

As criaturas antagonistas do filme são bem representadas, e eu gostei do fato de não serem vistas por quem assiste, embora uma cena mostrado a aparência das criaturas tenha sido gravada mas deletada. A sensação de perseguição e de fuga é constante, e a fraqueza dos personagens perante esses demônios lovercraftianos é clara e assustadora. 

Portanto, embora não seja uma adaptação perfeita (eu pesquisei e vi que o livro tem um final mais sombrio e mais interessante), Bird Box garante um bom entretenimento é um bom filme de terror. 


8 de janeiro de 2019

O Cochilo

Era dia 4 de novembro. Um dia muito aguardado. Havia esperando um ano por aquele dia. 2018 tinha sido meu último ano no Ensino Médio. Eu queria tirar uma nota boa, ou melhor, eu precisa tirar uma nota boa. Afinal, como passaria pra medicina?

A prova era sediada na minha cidade, então eu tinha sorte de não precisar, como outros, pegar um ônibus para uma cidade mais próxima para fazer a prova. Na verdade, eu era bem mais sortudo que muitos pois a escola em que eu faria a prova ficava a apenas alguns quarterões de minha casa casa!

E quando falo que havia esperado para o dia há muito tempo, eu falo sério. Por meses estudei, primeiro fiz cursinho de redação (grátis) na internet e depois presencial, uma quantia leve mensalmente. Fiz dezenas de redações, sobre todos os assuntos, desde temas como "Como acabar com a corrupção" até "Porque não vale a pena jogar jogos no console hoje em dia".

Mas consegue atingir a perfeição com o tempo.

Quantos as outras áreas: linguagens estava domada após horas lendo os mais clássicos de nossa literatura (até estrangeira), ciências humanas seria fácil depois de tantos jornais e noticiários analisados. Matemática e natureza me meteram medo no começo, mas também foram dominadas.

Eu era um homem determinado a tirar uma nota boa no ENEM de 2018, nos dois dias de prova.

Mas toda história tem seu lado sombrio. E como vocês podem adivinhar, essa história que estão lendo trata de um dia terrível pra mim (embora o sol brilhasse no céu).

Acontece que no dia em questão eu estava com sono.

"Não estude na noite anterior da prova", me alertaram. Eu tentei seguir esse conselho. No dia 3 de novembro eu fui pra cama às nove horas da noite.

Mas eu mal dormi. Madruguei, estava ansioso. Não seria minha primeira vez fazendo uma prova do ENEM (era minha segunda vez, na última eu tinha ido como treineiro), mas esse ano seria importante, pois eu precisava tirar uma nota boa.

E isso, como podem adivinhar, traria péssimas consequências.

Como já dito, era 4 de novembro de 2018. Não haviam nuvens no céus. Saí de casa com a benção de minha mãe e um olhar de confiança de meu pai (embora eu me lembre de ter enxergado uma certa preocupação). Meu irmão mais novo, ainda muito jovem para fazer a prova, não se lembrou de me desejar boa sorte, estava ocupada demais no video game.

Eram quase onze horas quando saí de casa. Os portões estavam quase se abrindo. Quando cheguei já tinham acabado de abri-los.

Eu já estava acordado fazia mais de vinte e quatro horas, o que era surpreendente (embora não fosse meu recorde). Enquanto me preparava para entrar na sala, sentado em uma banco no pátio, sacola com doces na mão, eu pude sentir, levemente, minha cabeça pender para baixo. Meu amigo e colega, sentado ao meu lado, teve de me acordar para que eu não caísse no chão.

"Você não dormiu direito?", ele me indagou.

O sono estava chegando. Mas também estava chegando a prova.

Era chegada a hora então. Entrei na sala e esperei trinta minutos pela prova. Nesse período não me lembro de ter sentido muito sono, apenas um leve peso nas pálpebras.

Estava bem confiante quanto a prova. Já tinha em minha cabeça: questões primeiro, redação por último.

Como sempre fazia em uma sala de aula, me acomodei nos fundos, encostado a parede. No momento fiquei feliz de ter me posicionado atrás de um rapaz quase obeso, "ninguém vai me ver", pensei. Porém, isso foi um erro.

O sino tocou. A moça começou a distribuir os cadernos. O meu era de cor azul. Me lembro que a primeira coisa que fiz foi cheirá-lo.

Agora vocês devem estar se perguntando: quando você caiu no sono?

Bem não demorou muito para isso acontecer.

Por algum motivo, achei que seria divertido abrir o caderno em uma página aleatória e responder a primeira questão que visse (achei que seria desafiador, sempre gostei de desafios).

Era uma questão de português com um enunciado gigantesco. Lê-lo foi, em termos poéticos, como navegar em um mar escuro e coberto de uma névoa fria. Enquanto lia, pude sentir meu corpo se "desligando". Minha mente saltou do texto para mundos estranhos, como um sonho ganhando pernas, e de repente me vi em uma terra sob um crepúsculo, apenas observando, impotente, meu corpo ali sentado ainda com o caderno em mãos.

Minha visão se escureceu. O sono estava tomando controle de mim.

Nem tentei resistir. Cai de cara na carteira. Não estava mais ali.

Uma hora depois eu ainda dormia. O gordo em minha frente tornou impossível que a moça que aplicava as provas me visse e que, por gentileza, me acordasse.

Duas horas da tarde, fiz um pequeno movimento, mas voltei ao meu sono. Três horas, estava babando. Eram quatro horas e ainda dormia.

Foi às cinco horas que me fui despertado, faltando uma hora para o término do horário! Quem me acordou foi ninguém mesmo que o rapaz na minha frente, que havia terminado a prova.

Ali me encontrei, de cara sob a mesma questão. Não havia respondido nenhuma e nem ao menos havia visto o tema da redação.

A baba sob a prova agora se misturava com lágrimas. Não podia acreditar naquilo. Minha dor foi enorme. Quase todos na minha sala já tinha feito, faltando eu e duas moças sentadas na frente.

Pensei, por um segundo, em abandonar a prova e sair correndo dali em prantos. Porém, respirei fundo e me lembrei dos olhares da minha família (com exceção de meu irmão que mais se importava em jogar).

Respondi, ou tentei responder como um louco TODAS as 90 questões daquele caderno. Estava soando, a tarde estava ficando mais escura, o sol se escondia. Era quase cinco e meia e ainda estava na questão 34. Eu pensei "dane-se" e parti para a redação.

Tema: manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na Internet

Eu sabia que o tema não era difícil. Mas alguma coisa travou na minha mente... deu branco, não conseguiu sair nada. Tentei vários começos na folha de redação, mas nada parecia certo.

Faltava menos de vinte minutos para o tempo acabar. Resolvi escrever qualquer porcaria lá. Eu era um homem derrotado.

Sai da sala totalmente destruído. "Por que?!", eu dizia.

Encontrei meus amigos do lado de fora da escola, todos conversando sobre como tinham se saído, alguns estavam bem alegres, confiantes. Passei por eles sem falar nada.

Voltei para casa. Me dei com minha mãe.

"Como foi, filho?", ela perguntou.

"Foi legal, mas acho que não tiro nota boa", eu respondi.

"Como não? Você estudou tanto!"

"Eu sei, mas talvez não tenha sido o suficiente. Além do mais, eu estava com sono"

Eu sabia que não passaria de forma nenhuma. E nem pensei em fazer a prova na semana seguinte.

Mais tarde, naquela noite, meu pai veio me dar o boa noite antes de dormir. Me encontrou no meu quarto vendo vídeos no computador.

"Tá vendo o que, filho?"

"Estou estudando para 2019, pai", eu respondi.

FIM