31 de julho de 2017

Entrecho: Bazabú

O espaço é frio. É solitário. É escuro.

A tripulação da Enterprise XII sentiu isso na pele e na alma. Em seu segundo ano de viagem até Plutão eles se depararam com aquilo que nenhum humano na Terra pensou que poderia ser real.

Era um diabo do espaço.

Sua pele vermelha e elástica. Não tinha rosto, nem ao menos tinha uma forma. Era como uma larva sem proporções, que se contorcia freneticamente em uma dança macabra. Sua imagem inspirava medo.

Mas a tripulação da  Enterprise XII não chegou em Plutão e nem voltou para contar. Eles já estavam mortos antes de chegarem a Urano.

A gigante figura assustadora e bizarra agarrou a Enterprise em pleno voo e a quebrou em dois como se fosse um graveto. Os homens foram atirados para fora pelo impacto.

O capitão Henry Nunes ainda teve tempo de perguntar enquanto havia oxigênio em seus pulmões:

"O que és tu?"

E a criatura respondeu:

"O Filho do Medo, Senhor das Trevas, Aquele que Tira a Vida, o Terror do Universo, o Demônio Cósmico, o Diabo das Estrelas, eu sou o Devorador de Mundos, meu nome é Bazuzú!"

***

A Terra tremeu naquele instante. O impacto de mil bombas atômicas explodindo no vácuo foi poderoso demais.

A figura monstruosa se aproximando da Terra foi rapidamente percebida pelos astrônomos e o governo da Terra teve tempo de agir.

Mesmo assim foi tarde demais. A Lua se fora.

Tentado acabado de devorar o satélite natural, as explosões nucleares fragmentaram o corpo de Bazuzú em um milhão de frações, com a Lua dentro de si.

Atirado ao espaço, o Devorador de Mundos estava morto, agora só a imagem de um terror passado que um dia já atormentara toda a galáxia.

Mas este não era o fim. Havia outros, outras criaturas como Bazuzú pelo universo.

***

Era um dia chuvoso na cidade. Um mês havia se passado desde a morte de Bazuzú e a destruição da Lua. Mesmo assim ninguém saia de suas casas. O mundo estava assustado com o que poderia ainda haver no resto do universo.

Gaspar, correndo pela rua com um jornal velho sobre a cabeça, reconheceu para onde deveria ir: a casa mais humilde possível.

Quase um barraco. E era habitada por um velho homem muito estranho. Gaspar pode sentir a atmosfera estranha dentro da casa. Era escura, fria, solitária...

Em um quarto estava ele, Estelar. Aparentava cem anos, barba branca e longa. Se sentava no chão, comendo uma comida pobre em seu prato de alumínio. Gaspar o surpreendeu.

"Tenho procurado por você, velho Estelar", disse Gaspar.

"O que te traz aqui?", perguntou Estelar.

"Você sabe o que. Você é um dos únicos Escolhidos que sobraram. Eu quero saber o que vai acontecer agora que o monstro foi morto. Quero me preparar."

Estelar deitou seu humilde prato de comida no chão.

"Seu desespero o traz aqui. Não sairá com nada de bom desta casa", disse o velho.

"Pelo amor de Deus, vocês são praticamente semideuses, me digam como me preparar para o pior!"

"Sua riqueza não poderá o salvar, Sr. Boll, pois o mal que está a vir destruirá a tudo."

"Seu velho idiota, fale como gente!"

Irado, Gaspar pulou para cima de Estelar. O jogou contra a parede, implorando por respostas, mas o velho só conseguia soltar seus últimos suspiros de agonia.

Gaspar percebeu: estava morto, um dos últimos Escolhidos.

Deixou o velho lá, naquele canto escuro da sala iluminada por velas. A chuva havia parado do lado de fora. Seu carro o esperava.

"Tudo bem, Sr. Boll?", um de seus seguranças perguntou.

"Preciso de uma reunião com os meus homens, agora!", ele gritou marchando para o carro.

Acima, o céu escurecia. O pior estava por vir.

29 de julho de 2017

Entrecho: O Homem de Chapéu

Nada temia o Homem de Chapéu. Era humilde, sábio, vivido, discreto, quieto. Vagava pelo mundo para sobreviver e semear o bem, uma espécie de dívida que ele tinha com o resto da humanidade. O seu passado era sombria, mas o Homem de Chapéu não gostava de falar disso.

Usava um grande chapéu que fazia sombra em seu rosto, roupas largas e botas negras. Nunca andava a cavalo, apenas a pé com um cajado a mão.

O Homem de Chapéu carregava o revólver, mas o usava apenas para para salvar a vida de outros.

Não bebia. Não fumava. Não visitava festanças. Jejuava e dormia pouco, mal falava.

Sua missão no mundo era fazer o bem. Pois era um fiel a Deus.

Um dia, o Homem de Chapéu passeava por uma região muito seca quando uma serpente o surpreendeu. Seu dom de esquiva é conhecido em todo o país e ele conseguiu desviar e matou a cobra com seu cajado. Guardou a cobra para comer mais tarde e continuou sua jornada.

No mesmo dia, a noite, ele foi dormir e teve um sonho onde Deus o ordenava: tiro o veneno da cobra e molhe uma de suas balas com ele.

Assim ele fez pois era um homem fiel a Deus.

***

Alguns dias depois ele chegou em uma cidade onde a bondade não existia. Rio Vermelho era pequena e dominada por um coronal tirano, o Pistoleiro. As únicas pessoas que visitavam a igreja local tinham uma fé duvidável. Estava aos pedaços a igreja.

Havia jogos, prostitutas e bandidos em todos os cantos de Rio Vermelho. Não havia educação, não haviam leis.

Em busca de um teto, o Homem de Chapéu foi a uma pousada alugar um quarto. A atendente era uma mulher abatida e de aparência envelhecida. Estava grávida e já tinha um filho da idade de um menino. O nome da mulher era Ana Maria.

O Homem de Chapéu pode ver o sofrer dela.

Estava grávida do Pistoleiro.

"Que futuro terá meu filhos?", Ana Maria se perguntava isso todos os dias.

O Pistoleiro estava fora da cidade com seus homens e voltaria no dia seguinte. Ciumento, o homem que paquerasse sua mulher morreria em estantes.

O Homem de Chapéu não temia a morte, mas não queria paquera com Ana Maria. A chamou para seu quarto no meio da noite.

Uma fuga foi proposta. Uma fuga para longe, para um lugar distante, onde os filhos de Ana Maria pudessem viver em paz.

Um lugar chamado Baixada dos Anjos. Uma cidade perto da capital e de grande população. Haviam escolas e hospitais e policiamento. Um bom lar.

Ana Maria disse sim, ela mal ouviu.

***

A manhã chegou e o Pistoleiro estava lá. Um homem alto, forte e de forte personalidade. Todos os respeitavam e temiam. Tinha uma dúzia de capangas sempre ao lado, todos armados. Era um vaqueiro, homem poderoso, rico e de grande nome.

O Homem de Chapéu olhou para ele e sentiu pena.

Tratava Ana Maria como lixo, mesmo grávida. A pegava sem cuidado, batia nela, gritava com ela e outros maus tratos. O pobre Filho também sofria.

Rio Vermelho era o inferno e o Pistoleiro era o diabo. O Homem de Chapéu era o único caminhou para sair daquele lugar.

***

Quando estava quase anoitecendo, se notou uma fumaça subindo. Era fogo que logo cresceu e se espalhou. Uma casa abandonada, cercada de mato seco foi o necessário para distrair a atenção do povo.

Já de noite eles partiram, os quatro. Levaram pouca coisa e foram a pé.

Não demorou para que o Pistoleiro notasse a ausência de Ana Maria e do Filho. Procurou por ela em todas as artes, gritou seu nome pela cidade enquanto os homens tentavam apagar o fogo. Mas sua mente só queria encontrar a mulher que o abandonou e que iria pagar.

***

Foi uma fuga rápida. Por um tempo acharam que seria fácil. Mas quando já estavam cansados o inconveniente aconteceu: Ana Maria começou a entrar em trabalho de parto, no escuro, no silêncio e solidão da noite.

Apenas iluminados pelas estrelas, o esforço começou. Era como vomitar uma rocha fervente, uma dor única e terrível para uma pessoa naquelas condições.

Continuou até verem a cabeça da criança... mas só isso. Ana Maria não conseguia empurrar mais.

"O cordão ficou enrolado no pescoço", disse o Homem de Chapéu, "vamos ter que abrir seu ventre".

Mas Ana Maria não se importava mais com o sofrimento, só queria ver seu filho.

A faca enferrujada entrou se cravou na carne em uma dor ainda pior. Seu Filho nem podia assistir.

Mas o sofrimento foi recompensado e eles viram.... uma menina, era uma menina e os olhos de todos se maravilharam. Mesmo com a lanterna fraca a imagem da criança ficou bem clara para o Homem de Chapéu e o Filho.

O sangue jorrou sem controle. O sorriso ao ver a filho foi substituído por uma expressão de dor e agonia. Os olhos se fecharam lentamente, mas o Homem de Chapéu ainda pode ouvir:

"Cuide de minha filha, cumpra essa promessa".

E Ana Maria morreu.

Eles enrolaram a menina em alguns panos, olharam para baixo e foram embora. Nem o Homem de Chapéu nem o Filho tiveram coragem de fazer ou dizer nada.

Dormiram longe dali.

***

De manhã havia o cano de uma espingarda apontada para a cabeça do Homem de Chapéu.

"Seu chapéu não é a prova de balas, então é bom se levantar".

Ele se pôs de pé lentamente. A figura do Pistoleiro era sinistra, mas o Homem de Chapéu não teve medo. E, se aguentando nas pernas, o encarou.

Haviam doze homens acompanhando o Pistoleiro. Eram treze canos prontos para disparar.

Mas uma coisa o Homem de Chapéu não reparou de primeiro: o sumiço das crianças. 

"Eu sei que sabe mais do que eu", disse o Pistoleiro, "então me diga o paradeiro do moleque".

"Não sei o que aconteceu".

"Tu matou minha mulher!"

"Não sei para onde foram", o Homem de Chapéu tranquilo disse.

Algumas pessoas são bem dotadas pois Deus lhes dá esse poder desde o nascimento. O Homem de Chapéu podia sacar o revólver em menos de um segundo alguns diziam, mas nesse caso o Pistoleiro não levou um tiro antes dele.

Foi perto do coração, fatal. O Homem de Chapéu caiu no chão como uma pedra e encarou o céu azul e um momento de pura dor.

Mas ele também disparou. A mira da bala desviou e acertou a perna do seu rival.

A pele do Pistoleiro era dura como a de um animal selvagem. Mal sentiu dor, mas a bala sim atravessou.

Eles queria continuar a caçada pelo Filho, mas o Pistoleiro sentiu os primeiros efeitos do veneno. A náusea e dor. Foi levado de volta a cidade, mas não havia hospitais e nem centros de saúdo, apenas bares e bordeis. Depois de horas de agonia, o veneno da serpente o matou.

***

Um lindo céu azul com nuvens pálidas foi o que o Homem de Chapéu viu ao acordar. Ele sentiu a mão divina assim que abriu os olhos. O buraco em seu peito, cheio de sangue, não doía mais.

Ele pôde ficar de pé e começou sua caminhada. O dia escureceu e ele não parou, o dia clareou e ele não havia nem deitado para descansar.

Só queria chegar ao seu destino: Baixada dos Anjos.

Foi que no meio da estrada ele viu, vindo do mato, o choro de uma criança. Era uma menina, ainda enrolada nas mesmas cobertas, abandonada pelo pobre coitado do irmão.

O Homem do Chapéu continuou com o bebê nas mãos. Por horas a criança foi aquecida pela figura magnífica que o carregava.

No dia seguinte ele chegou onde queria, na Baixada dos Anjos e na frente do hospital da cidade ele deixou a criança, ainda chorando.

O Homem de Chapéu sentou na calçada e levou sua mão ao peito. A dor havia voltado e então tudo escureceu. Mas ele não tinha medo da morte, nem da treva.

Sua missão, sua promessa estava cumprida.

FIM

27 de julho de 2017

Análise de Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma

Há semanas que eu tenho pesquisado intensivamente todos os aspectos desse filme Todo o drama, a ação, a emoção.. e eu não estou falando do conteúdo do filme, mas da preparação que houve para ele. Esta na hora de revisar um dos filmes mais esperados - e também mais desapontadores - da história do cinema.

Star Wars: Episódio 1 - A Ameaça Fantasma

 http://www.impawards.com/1999/posters/star_wars_episode_one_the_phantom_menace_ver2_xlg.jpg

TANTAS coisas podem ser ditas sobre esta obra-prima. Artigos já foram escritos tentando explicar a magia por trás desse fenômeno. Como pode um filme tão aguardado ser tão odiado justo por aqueles que estavam esperando por ele?  É uma história triste, mas que vou tentar contar com detalhes.

Vamos voltar para 1983. Depois do lançamento de Returno do Jedi e da conclusão da trilogia original, George Lucas saiu dos holofotes e os fãs ficaram felizes com o resultado (embora, claro, quisessem mais).

Foi só dez anos depois que George Lucas resolveu voltar a fazer Star Wars. Ele percebeu que a tecnologia dos efeitos especiais já havia evoluído o bastante para poder criar o seu filme e que ainda havia, ao contrário do que acreditava, uma grande fanbase que continuava assistindo os filmes e que liam romances baseados na franquia.

Em 1994 ele anunciou, na revista Variety, que estava preparando uma nova trilogia contando a história de Anakin Skywalker.

Os fãs foram ao delírio. O script foi finalizado em 96 e as gravações começaram em 97. A pós-produção durou nada menos que dois anos! E em maio de 1999, depois de muito tempo de expectativas, o filme foi lançado.

E aí foi descoberto um novo mundo.

Claro, as pessoas tinham seus "piores filmes" antes de A Ameaça Fantasma, existia até um prêmio para os filmes mais horríveis chamado Framboesa de Ouro (ainda existe). Mas foi depois de Episódio I que odiar filmes virou uma arte, não só uma arte para críticos especializados, mas para qualquer um, para qualquer fã triste.

Até os dias de hoje, A Ameaça Fantasma ainda é considerado o filme mais aguardado e também o maior desapontamento de todos os tempos.

Mas se quisermos mesmo entender o mistério por trás de Episódio I temos que analisar os elementos vitais do filme. Primeiro, vamos ler a sinopse.
Obi-Wan e seu mentor embarcam em uma perigosa aventura na tentativa de salvar o planeta das garras de Darth Sidious. Durante a viagem, eles conhecem um habilidoso menino e decidem treiná-lo para se tornar um Jedi. Mas o tempo irá revelar que as coisas nem sempre são o que aparentam ser

Um tanto que complexo, mas parece interessante. 

Agora, vamos analisar mais profundamente. Começando por:

1. personagens e caracterização

Segundo muitos fãs, o pior erro de Episódio I, para começar, foi a idade de Anakin Skywalker. Assistindo a trilogia original, os personagens se referem a Anakin Skywalker como quem foi um jedi velho, experiente e sábio, mas também um bom amigo e grande guerreiro (além de piloto habilidoso) que foi seduzido pelo lado sombrio e virou Darth Vader. Mas os prequels (como são chamados Episódio I, II e III em inglês e como eu passaria a me referir a eles agora) mostram uma face diferente deste personagem.

É difícil imaginar Darth Vader, um dos maiores vilões já criados, reduzido a um garotinho que grita "iupiii" e de atuação péssima.

O pior é saber que no rascunho original, Anakin era mais velho com 13 ou 14 anos de idade. Lucas mudou isso para dar mais "drama" na hora da despedida de Anakin e sua mãe do reencontro dos dois em Episódio II. Como se um adolescente não pudesse chorar, huh.

É triste como muito do rascunho original foi descartado. Por exemplo, originalmente Obi-Wan seria o único Jedi enviado para tratar com a Federação de Comércio, Qui-Gon Jinn não aparecia até o fim do segundo ato em Curuscant. Jar Jar Binks, personagem odiado pela sua caracterização, teria uma voz normal e não seria tão bobo. E Darth Maul teria mais falas.

Esses são alguns exemplos encontrados para mostrar como George Lucas não sabe escolher o que é melhor para o seu filme. A caracterização dos personagens de A Ameaça Fantasma é fraquíssima, existe pouca química e não nos importamos pelo o que acontece com ninguém na maior parte do filme. Arcos de personagem, aspectos essenciais na construção de um roteiro, não existem e o filme nem mesmo tem um personagem principal.

Me diga, quem é o protagonista de A Ameaça Fantasma? Qui-Gon? Obi-Wan? Anakin? Ou será Padme? O vilão está claro, mas não tanto o protagonista.

 https://am23.akamaized.net/tms/cnt/uploads/2015/05/16-dallas-cowboys-jar-jar-binks_pg_600-640x476.jpg


Não simpatizamos muito com os heróis e nem sentimos medo dos vilões, esse é o problema. É uma cena, Qui-Gon diz que Anakin é um garoto único e que ele faz muito sem querer receber nada em troca. Esse aspecto de Anakin é pouco explorando antes dessa cena. É apenas um dos muitos exemplos do que está errado.

A maioria dos personagens também são bobos. Jar Jar Binks é o maior exemplo. Todo o momento ele grita e corre de um lado para o outro, como um idiota que quer paracer engraçado. Embora o filme tenha revolucionado os efeitos especiais, Lucas exagerou na quantidade de personagens CGI (computação gráfica).

2. enredo

Se compararmos o início de Uma Nova Esperança (clássico) com A Ameaça Fantasma, rapidamente percebemos que tem algo de errado com o segundo. Em Uma Nova Esperança nós temos uma história antiga mas poderosa e de fácil entendimento até para um criança. O Império está perseguindo os rebeldes que acabaram de roubar o mapa da Estrela da Morte. Só isso. É simples mas é legal.

Em Ameaça Fantasma não é simples e nem legal. Dois Jedi são enviados para resolver um conflito de disputa das rotas comerciais entre a Federação do Comércio e a República Galática. Depois de resgataram a rainha de Naboo, eles ficam preso no planeta Tatooine e conhecem o jovem Anakin que tem... blá, blá.

Viram? Eu nem tenho saco pra começar. Na verdade, nem consigo começar, é difícil incluir todos os pontos da história porque são muitas coisas acontecendo. E o pior é que nos importamos pouco com essas coisas já que elas acontecem de uma maneira muito chata. Para um história direcionada para um público jovem, está um tanto que muito confusa.

3. a direção

George Lucas odeia dirigir filmes. Ele mesmo falou isso. Ela odeia ter que se preocupar com as gravações, a escolha de atores, todo o movimento que se tem com o set e tal. Mas ele é um bom produtor executivo.

Lucas é um ótimo escritor de histórias, significa que ele é bom em traçar sinopses (como ele fez em O Império Contra-ataca e Retorno do Jedi). Mas é péssimo na parte do roteiro, especialmente no diálogo. O motivo de Uma Nova Esperança (escrito por ele) ter feito sucesso foi a edição, a atuação e a revisão de roteiro por seus amigos que o ajudaram em Loucuras de Verão.

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Mas ele dirigiu e escreveu A Ameaça Fantasma, esse é o problema.

Mas por que ele dirigiu já que era tão ruim? Temos que entender o contexto da época. Lucas era aclamado por ser o idealizador de todo o universo Star Wars. Acreditem, ele não queria dirigir nem escrever Episódio I. O cargo de diretor foi oferecido a Ron Howard, Robert Zemeckis e Steven Spielberg. Como roteiristas, Lucas considerou Lawrence Kasdan. Todas essas cinco pessoas disseram a mesma coisa: Lucas, você deveria fazer esse filme do seu jeito.
  
Essa é a consequência de ser idolatrado. Lucas perdeu a comunicação com qualquer outro profissional. Todos simplesmente balançariam a cabeça e diriam "sim" para qualquer escolha de Lucas, assim nasceram coisas como Jar Jar Binks e midi-chlorians.

Para ter ideia, Liam Neeson, intérprete de Qui-Gon Jinn, nem mesmo leu o roteiro antes de assinar o contrato.

Conclusão

Eu deixei muita coisa de fora na hora de criticar o filme. Mas só assistindo e comparando a trilogia original que se pode entender o motivo de A Ameaça Fantasma ter decepcionado tantos fãs por aí.

Porém, apesar de todo esse texto meu, A Ameaça Fantasma ainda é adorado por muitas pessoas. Eu mesmo não gosto dele como um filme comum, mas é o meu terceiro favorito da saga por causa da história e da simbologia implícita deixada por Lucas.

A Disney, atual dona dos direitos Star Wars, ainda considera A Ameaça Fantasma como cânon e tem continuado as histórias do filme em séries como The Clone Wars e Star Wars Rebels.

Para sempre viverá este filme na cabeça de fãs que tanto esperaram por um épico mas receberam um grande bolo de decepção.
 

8 de julho de 2017

Psicóloga

A mulher sentada na poltrona vermelha tinha cabelos negros, era delgada, alta, tinha óculos. O olhar era fixo e profundo, quase como das pessoas que ela tratava.

E havia o rapaz. Estava deitado no sofá. Olhava para o teto, para o vazio, os braços cruzados. Parecia impaciente, mas talvez soubesse o que estava fazendo. Se vestia muito bem, bem demais para estar daquele lado da sala.

Foi silêncio por um tempo.

- Eu tenho uma vida infeliz. - disse o rapaz.

- Por que exatamente?- ela perguntou.

O rapaz se acomodou na sua poltrona (menor e menos confortável do que a da psicóloga) e engoliu seco. Olhou fundo nos olhos da mulher, um olhar diferente, uma análise.

- Meu trabalho... não amo meu trabalho. É chato, eu trabalho com pessoas chatas. Todos os dias eu tenho que ouvir, ouvir... ouvir reclamações, todo tipo de coisa. Imagina?

- Sim, eu sei como é. Meu trabalho é mais ou menos assim.

Ela bebeu um copo d'água que estava ao lado, água gelada. 

- Não - ele disse - não sabe. Como você se sentiria em ter que ouvir os outros e não poder ouvir a si mesmo?

- É uma ideia ruim.. mas não funciona assim. - a psicóloga respondeu.

Bebeu outro gole, a água mais fria. O rapaz se inclinou para frente, quase que a encarando. Mas a psicóloga não se amedrontava. Parecia conhecê-lo, ou tentar conhecê-lo.

- E ter que voltar pra casa e aguentar uma vida dura, estressante, viver sem fôlego. Parece ruim?

- Sim, parece.

Um terceiro gole já quente esvaziou o copo. O olhar dela se perde, mão a cabeça. O rapaz parece saber muito.

- E junte isso com o seu passado, o seu histórico sombrio. Os abusos, os traumas, os medos.

- É terrível. - ela respondeu.

- Você tem algo a falar? - o rapaz perguntou.

- Eu tenho problemas também. Talvez eu sonhe demais. Talvez algumas coisas sejam apenas ilusões para mim. É difícil falar sobre isso. Nem deveria estar falando.

- Que tipo de ilusões?

O rapaz cruza as pernas. Mão no queixo, olhar de interesse. Os papéis parecem ter se invertido.

- Olha, eu sou a psicóloga aqui. O papel de doutora é meu.

A psicóloga parecia perder o controle. As mãos tremendo, o ar indo e vindo das narinas, a tensão aumentando.

- Está tudo bem. Eu também tenho problemas e quero ajudar - ele disse com uma voz calma - Está tudo bem.

- Não faz sentido. Eu sou a psicóloga!

- Eu entendo.

- Não entende. E não mande eu me acalmar! - ela começa a realmente gritar.

Do lado de fora do consultório duas moças esperavam por sua vez. Mas só podiam ouvir os gritos de uma mulher vindo de dentro.

Depois de um tempo o barulho acabou. A porta se abriu, de onde saiu o Dr. Artur e uma jovem mulher de cabelos negros. Ela parecia calma por fora mas nervosa, quase explodindo, por dentro.

- Tudo bem, Isidora - disse Dr. Artur para a mulher - Continue tomando seus remédios e volte na próxima semana.

A abatida Isidora agradeceu e se foi.

Uma das moças aguardando na sala de espera ficou curiosa.

- Doutor, quem era?

- Uma coitada que sofre de delírios. Muito traumatizada com a perda do filho mais novo. Ela acha que é uma psicóloga.

FIM