9 de agosto de 2017

Entrecho: O Outro Lado

Esta história curta é baseada em um conto que eu achei em um fórum anônimo americano. Eu traduzi todo o texto e, infelizmente, não posso dar créditos ao autor. Mesmo assim deixarei esta mensagem aqui para que todos saibam que eu não sou o que realmente escreveu o conto.

Você estava voltando para casa quando morreu.

Um acidente de carro. Fatal. Uma viúva e três filhos choraram mais alto em seu funeral. Mas a sua morte foi indolor. Os médicos fizeram o possível, mas você não aguentou.

E foi assim que você me encontrou.

"O que... o que houve?!, você perguntou, "onde eu estou?"

"Você está morto", eu disse de forma fria e direta. Sem enrolações.

"Era um... tinha um caminhão..."

"Sim", eu disse.

"Eu morri?", você me perguntou.

"Não fique triste ou abalado", eu dei um leve sorriso e um tapa em suas costas, "todo mundo morre um dia".

Você olhou para os lados, perdido. Um lugar vazio, vácuo. Só eu e você. "Que lugar é esse?", me perguntou, "aqui é o Céu?"

"Mais ou menos"

"Você é... Deus?", você me perguntou.

"Sim", respondi, "sou Deus".

"Minha família....", você disse.

"O que tem eles?"

"Eles vão ficar bem?"

"Isso é o que gosto de ver", eu disse, "você acaba de morrer e sua primeira preocupação é a família. Isso é um bom sinal!"

Você me olhou de cima a baixo com fascínio. Para você eu não era nenhum Deus. Minha aparência era de um homem comum, não muito diferente de um carteiro ou professor.

"Não se preocupe", eu disse, "eles vão ficar bem. Seus filhos vão se lembrar de você um dia. Sua esposa vai chorar por fora, mas ela vai estar secretamente aliviada. Seu casamento não estava indo muito bem mesmo. Mas é bom que saiba que ela um dia vai se sentir mal por ter ficado aliviada pela sua morte."

"E agora?", você disse, "o que acontece agora? O que acontece comigo?"

"Nenhum dos dois. Você será reencarnado", eu disse.

"Reencarnação?", você se admirou, "então os hindu estavam certos?"

"Todas as religiões estão corretas de uma certa maneira", eu disse, "venha, me siga".

Continuamos andando enquanto penetrávamos no vácuo. "Aonda vamos?", você perguntou ainda confuso.

"Lugar nenhum", eu disse, "só acho bom conversar enquanto caminhamos".

"Então", você começou, "como funciona?" Quando eu nascer de novo minha memória vai ser apagada, não é? Todas as minhas experiências passadas não vão ter nenhuma importância."

"Não", eu disse, "você tem todo o conhecimento de suas encarnações passadas dentro de você, mas você simplesmente não se lembra delas."

Eu parei de caminhar e pus minha mão em seu ombro. "Sua alma é muito mais linda, magnífica e incrível do que você pode imaginar. Uma mente humana só consegue conter uma pequena fração de sua capacidade."

Você olhou para baixo, um olhar maravilhado e depois me encarou.

"Você tem sido um humano pelos últimos 48 anos, uma vida limitada. Pouco demais para aprender tanto sobre sua imensidão espiritual."

"Quantas vezes eu já reencarnei?", você perguntou.

"Muitas vezes, muitas vezes", eu respondi, "dessa vez você será um mercador árabe no século VI."

"O que?!", você disse surpreso, "você vai me mandar de volta no tempo?!"

"O tempo como você conhece apenas existe em seu universo. As coisas são diferentes de onde eu vim."

"De onde você veio?", você perguntou.

"Eu vim de um lugar muito distante", eu respondi, "e existem muitos outros como eu. Eu sei que você quer saber mais, mas acho que você não entenderia se eu explicasse".

Você ficou quieto por um momento, se sentindo tão pequeno.

"Se... se eu reencarno no passado, então eu posso ter interagido com outra versão minha"

"Isso acontece o tempo todo", eu respondi, "e as duas vidas nunca estão cientes que encontram a si mesmas."

"E qual é o sentido por trás disso tudo?", você perguntou.

"Sério?! Você quer saber o sentido da vida? Essa é uma pergunta ousada."

"Acho que é importante que eu saiba antes de ir embora", você disse.

Eu te olhei nos olhos. "O motivo de eu ter criado o universo, de ter criado você é para que você pudesse amadurecer".

"Você está falando da humanidade? Você quer nos ver amadurecidos?", você perguntou.

"Não, só você. Eu fiz todo o universo só para você. A cada encarnação você cresceria e ganharia mais conhecimento."

"Só eu?", você perguntou, "e o resto das pessoas?"

"Não existem outros", respondi, "só existe eu e você"

Você paralisou. "Mas... e as pessoas na Terra?"

"São você. Diferentes encarnações suas."

"Eu... sou todo mundo?", você me perguntou.

Eu te dei um tapa nas costas e um sorriso. "Isso mesmo."

"Eu sou todo o humano que já viveu?"

"E todo humano que viverá"

"Eu sou o Napoleão Bonaparte?"

"E Dom João VI, sim, você é"

"Eu sou Hitler?", você perguntou, pálido.

"E é todos os milhões mortos por ele", eu completei.

"Sou Jesus Cristo?"

"E todos que o seguiram"

Você caiu, silencioso, de joelhos, mão a cabeça.

"Cada vez que você escravizava uma pessoa, estava escravizando a si mesmo. Cada momento de felicidade e tristeza que você já compartilhou com outro estava compartilhando com si mesmo", eu disse.

"Por que?", você perguntou, "por que fazer isso?"

"Por que um dia você vai se tornar como eu. Este é você. Meu filho."

"Eu sou um Deus", você disse.

"Não, ainda não. Você ainda está crescendo. Uma vez que tenha vivido na pele de todos os humanos que já existiram, você terá crescido o bastante para nascer de verdade"

"Então o universo inteiro é um...."

"Um ovo", eu respondi, "agora é hora de se partir para a sua nova vida."

E com um estalar de dedos eu te mandei para seu novo desafio, seu novo pequeno mundo.

FIM





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