5 de outubro de 2019

O Pato


Cláudia sentou-se no banco à beira da pequena lagoa que existia naquela pracinha do centro da cidade. Gostava de fazer aquilo todo fim de tarde, assim que saia do expediente. Era um lugar bonito, cheio de árvores, cheio de verde, um clima bom. Sempre trazia alguns pães que comprava no caminho e que ficava distribuindo aos patos, estes se deliciavam com as migalhas e, como eram de uma espécie aparentemente violenta, muitas vezes se envolviam em brigas e disputas pelos maiores pedaços.

Sentada ali, Cláudia parecia tão solitária enquanto observava aqueles bichos. Parecia que o mundo todo, por vinte minutos, decidia se afastar dela e deixá-la num canto escuro e abandonado. Mas ela não se importava muito. Cláudia gostava de ouvir músicas com fone de ouvido. Tinha de tudo no celular. Não se importava com o que pensavam, só queria dar de comida aos patos ouvindo música.

Mas acabou se apaixonando, não pelos patos, mas por um homem que conhecera no parque. Era bonito, ela pensou. Não tinha a menor ideia de qual era seu nome, mas o achava elegante vestindo aquela camisa branca enquanto lia um livro. Ela pensou que poderia ser alguém importante e culto, talvez um intelectual. Cláudia percebeu que ele não ligava para os patos, só queria saber de ler.

Cláudia teve medo de se aproximar dele. Falar com ele? Loucura. Seria rejeitada ou mesmo ignorada. Ele parecia estar num patamar muito mais alto do que a pobre coitada que só queria alimentar seus patos.

Mas por que não tentar? Um dia ela resolver falar com ele, não pensou que alguma coisa poderia dar errado. Mas enquanto se levantava, acabou derrubando a sacola cheia de pães sobre seu colo, assim espalhando várias migalhas. Olhou para o homem para se certificar que ele não tinha visto aquele desastre. Não tinha, continuava no seu livro.

Mas o pior aconteceu aí: um dos patos viu as migalhas que ficaram grudadas em sua blusa e resolveu partir para cima. A ave deu um salto e atacou o tronco da pobre Cláudia, assim chamando a atenção dos outros animais que o seguiram em um gesto de gula desesperada. Quando o homem tirou os olhos do seu livro de poesias e olhou para o lado, viu uma mulher sendo violentamento atacada por um exército de patos, correndo pelo parque enquanto gritava por socorro.

Foi um desastre. Cláudia ficou arrasada. Pensou em nunca mais voltar para aquele ponto à beira do lagoa. Não queria nunca mais ver aquele homem. Os patos não vão sentir minha falta, ela pensou.

Já estava escurecendo enquanto voltava para casa. Tinha várias beliscões pelo corpo e penas que haviam entrado na sua blusa, caminhava com dores pela calçada. E então ouviu um som: quac! Olhou para trás e um dos patos a havia seguido. Cláudia fez um gesto hostil para o animal se afastar, mas depois de tomar distância ele voltou a se aproximar e seguiu a mulher até ela chegar ao seu destino.

Enquanto estava parada de frente a sua porta, Cláudia olhou para baixo e viu aquele pobre bichinho que provavelmente só queria mais um bolinho de manteiga. Deixou de sentir raiva e começou a simpatizar com ele. O pegou nas mãos e o levantou. O pato deixou escapar: quac!

Cláudia sorriu. Era o começo de uma grande amizade.

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