Cláudia
sentou-se no banco à beira da pequena lagoa que existia naquela
pracinha do centro da cidade. Gostava de fazer aquilo todo fim de
tarde, assim que saia do expediente. Era um lugar bonito, cheio de
árvores, cheio de verde, um clima bom. Sempre trazia alguns pães
que comprava no caminho e que ficava distribuindo aos patos, estes se
deliciavam com as migalhas e, como eram de uma espécie aparentemente
violenta, muitas vezes se envolviam em brigas e disputas pelos
maiores pedaços.
Sentada
ali, Cláudia parecia tão solitária enquanto observava aqueles bichos. Parecia que o mundo todo, por vinte
minutos, decidia se afastar dela e deixá-la num canto escuro e
abandonado. Mas ela não se importava muito. Cláudia gostava de
ouvir músicas com fone de ouvido. Tinha de tudo no celular. Não se
importava com o que pensavam, só queria dar de comida aos patos
ouvindo música.
Mas
acabou se apaixonando, não pelos patos, mas por um homem que
conhecera no parque. Era bonito, ela pensou. Não tinha a menor ideia
de qual era seu nome, mas o achava elegante vestindo aquela camisa
branca enquanto lia um livro. Ela pensou que poderia ser alguém importante e culto, talvez um intelectual. Cláudia percebeu que ele não
ligava para os patos, só queria saber de ler.
Cláudia
teve medo de se aproximar dele. Falar com ele? Loucura. Seria
rejeitada ou mesmo ignorada. Ele parecia estar num patamar muito mais
alto do que a pobre coitada que só queria alimentar seus patos.
Mas
por que não tentar? Um dia ela resolver falar com ele, não pensou
que alguma coisa poderia dar errado. Mas enquanto se levantava,
acabou derrubando a sacola cheia de pães sobre seu colo, assim
espalhando várias migalhas. Olhou para o homem para se certificar
que ele não tinha visto aquele desastre. Não tinha, continuava no
seu livro.
Mas
o pior aconteceu aí: um dos patos viu as migalhas que ficaram
grudadas em sua blusa e resolveu partir para cima. A ave deu um salto
e atacou o tronco da pobre Cláudia, assim chamando a atenção dos
outros animais que o seguiram em um gesto de gula desesperada. Quando
o homem tirou os olhos do seu livro de poesias e olhou para o lado,
viu uma mulher sendo violentamento atacada por um exército de patos,
correndo pelo parque enquanto gritava por socorro.
Foi um desastre. Cláudia ficou arrasada. Pensou em nunca mais
voltar para aquele ponto à beira do lagoa. Não queria nunca mais
ver aquele homem. Os patos não vão sentir minha falta, ela pensou.
Já
estava escurecendo enquanto voltava para casa. Tinha várias
beliscões pelo corpo e penas que haviam entrado na sua blusa,
caminhava com dores pela calçada. E então ouviu um som: quac! Olhou
para trás e um dos patos a havia seguido. Cláudia fez um gesto
hostil para o animal se afastar, mas depois de tomar distância ele
voltou a se aproximar e seguiu a mulher até ela chegar ao seu
destino.
Enquanto
estava parada de frente a sua porta, Cláudia olhou para baixo e viu
aquele pobre bichinho que provavelmente só queria mais um bolinho de
manteiga. Deixou de sentir raiva e começou a simpatizar com ele. O
pegou nas mãos e o levantou. O pato deixou escapar: quac!
Cláudia
sorriu. Era o começo de uma grande amizade.
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