19 de dezembro de 2019

Homem Comum


Por que você está lendo este conto? Não leu o título, por acaso? Eu, o narrador, sou apenas um homem normal. Sou genérico, ordinário, comum. Não tenho nenhum grande talento ou nada que me destaque-me da multidão.

Ainda está lendo? Bem, já que está tão interessado, permita-me não te surpreender. Meu nome é João, ou seja, um nome bastante comum neste país. Moro em uma casa de classe média baixa. Trabalho em uma firma. Ganho o suficiente para não passar fome. Não sou rico mas também não sou miserável. Minha casa (ordinária) tem um portão que faz um barulho irritante quando é aberto. É onde eu enfio meu carro totalmente ordinário. Família? Não tenho. Não sou casado. Não tenho filhos muito menos. Se um dia eu vou me casar? Não sei, e não faz diferença e não vai mudar minha condição. Mas falando nisso, conheci uma moça legal ontem na academia. Estamos nos falando e nos dando bem. Mas ela é como eu: uma pessoa normal. Se eu penso muito no futuro? Sinceramente, não. Como eu já disse, não faz diferença. Nada faz. Tudo é a mesma coisa para mim.

Agora devem estar pensando que eu sou um cara triste e vazio por dentro. De forma alguma. O que eu mais gosto de fazer e ir pro barzinho tomar umas com meus amigos enquanto jogo sinuca e assisto a futebol (sou flamenguista, time normal). Nada melhor do que uma vida totalmente comum assim. Devem me achar sem graça. Acho que sou mesmo. Não me importo.

Já é o quarto parágrafo e ainda está lendo? Você é persistente. Mas enfim, não tenho muito o que falar. Esse conto (nem merece assim ser chamado, não tem narratva) na verdade nem precisava ser escrito. Você está perdendo o seu tempo. Vá fazer alguma coisa de interessante, alguma coisa extraordinária. Aprenda algum idioma novo, pois eu só sei português; aprenda a tocar violão, piano ou saxofone, treine seus músculos e coordenação, vire um faixa preta em artes marciais; escreva um livro, torne-se um famoso autor; vire um médico, salve vidas; vire um filósofo, mude o mundo! Não seja como eu, totalmente normal. Eu não sou importante e nunca vou ser, e isso não é ruim e nem bom, é um fato somente. Sou só um homem comum.

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