6 de dezembro de 2019

Sob a luz de um poste

Era noite. Mariana segurou bem forte a mão do rapaz. Este era bem mais alto do que ela, cabelos negros, olhos profundos, sorriso bonito. Ela segurava a sua mão pois não queria perdê-lo, mas sabia que, ali naquela pracinha modesta, seria a última vez que se veriam.

Pararam sob a luz de um poste. Uma luz amarelada que dava à cena uma atmosfera melancólica e triste. O rapaz pegou nas mãos de Mariana. Ela queria acreditar que daria tudo certo. Entretanto, o olhar dele já dizia tudo: era um adeus.

- Vou embora.
- Não vá – Mariana protestou.
- Eu vou.
- Não me deixe.

Ela o abraçou. Era um episódio de novela. O silêncio da noite não os deixava ouvir a própria respiração. O escuro que os circulava era como um oceano negro. Não um negro assustador, tudo naquela noite era somente triste. Até os vaga-lumes e outros insetos que circulavam o poste eram arautos da infelicidade. Mariana, menina observadora, olhou bem para os minúsculos animais alados que voavam ao redor da luz do poste. Por muito tempo os contemplou e viu como era descontente a sua natureza. Sempre estavam a circular o poste, mesmo sabendo que este eventualmente se apagaria assim que chegasse a aurora. Mariana pensou nisso e chorou. Abraçou com mais força o amante. Ele tentou consolá-la com um beijo na testa, mas ela só chorou mais. Seu amor era efêmero, ela pensou. Mas, assim como os vaga-lumes que perdem sua luz, tinha que aprender a perder sua paixão.

- Eu vou embora, tudo bem? - ele disse.
- Tá, eu aceito isso. Vou sentir sua falta. Te amo.

Ele a beijou no rosto, um beijo logo e apertado. Mas a hora chegava de dizer adeus. Segurou uma última vez em suas mãos frias e delicadas e as apertou, como que se estivesse tirando as últimas gotas de seu amor de menina, amor tão precioso. Se olharam e então ele virou-se, mãos no bolso, e adentrou a escuridão.

Mariana engoliu suas lágrimas pesadas. Não podia chorar. Olhou para os vaga-lumes e descobriu que nem todo adeus é eterno e que, assim como a luz que se apaga pela manhã volta quando o sol se esconde de noite , o nosso amor se reacende quando reencontramos alguém que o mereça.

Que menina forte era Mariana, ali, parada sob a luz daquele poste.

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