12 de abril de 2016

Os Desejos de Fernando

Fernando passeava por um parque quando viu um poço fora da estrada. Parecia velho, como se ninguém tivesse o usado nos últimos cinquenta anos. 
- Vou fazer um desejo! - disse Fernando - Pois dizem que se você tiver uma moeda e jogá-la num poço velho, pode fazer um desejo e ele se realizará.
Fernando tirou uma moeda de cinco centavos, a única que ele tinha, do bolso da calça e, pensando em um desejo com a língua para fora, jogou-a no poço. Demorou alguns segundos para ouví-la bater no chão, e então houve um silêncio. 
- Que porcaria! - ele exclamou - Isso é besteira, vou para casa.
Mas antes de se virar, houve um grande barulho, como se fosse o barulho da máquina de um metalúrgico. Fernando, assustado, então percebeu que o barulho vinha do poço, e desse também saia uma fumaça azul. Havia um agradável cheiro, assim ficou por muito tempo.
Então um gênio saiu de dentro do poço. Era um homem gordo e baixo, que flutuava, sentado sobre seu cajado. Tinha a bele azul e uma baita barba castanha, além dos olhos cinzentos.
- Meu jovem! - ele disse, com voz altiva - Meu bom jovem! Quem agora me acorda? Eu estava cochilando já fazia algum tempo. Espero que seja algo importante nesta vez.
Mas Fernando estava sem palavras, olhando para aquele gênio. Pensou em correr, mas agora que a criatura havia falado, ele se admirou.
- E-eu, eu sou Fernando - ele disse - Meu nome é Fernando. Por favor, senhor, não me transforme em nada feio. Não me mate também! Sou jovem e cheio de sonhos. Estou terminando a faculdade. Tenho muito pela frente. Piedade!
- Tudo bem! - o gênio levantou a gorda mão - Fique calmo, jovem Fernando. Não o matarei, a não ser que me deixe realmente com raiva. Meu nome é Og, eu sou um gênio, elfo, mago, deus, fado, ou qualquer coisa que você quiser imaginar. Na verdade, nem eu sei o que eu sou de verdade, de tão antigo. Mas diga-me, Fernando, qual o seu desejo?
- Ó, Og, o Poderoso - Fernando disse com medo - Eu já fiz meu desejo em minha mente, em silêncio. Eu joguei aquela moeda no poço pois, segundo o que dizem, é assim que podemos conquistar nossos sonhos.
- Mas ora - disse Og - Aquela moedinha acertou com força a minha cabeça, por isso acordei. E eu não ouvi seu desejo, pois você o fez em silêncio. Deve falar, meu Fernando. Agora que estou aqui, pode fazer dois desejos: um para você e outro para outra pessoa
- Ó, sim! - respondeu Fernando - Pois eu tenho um desejo: quero ser rico, muito rico! Porém, ainda não sei o que farei com o outro desejo...
Pois Fernando pensou muito. Pensou nele mesmo, mesmo sabendo que o desejo era para outra pessoas, pensou na sua mãe que andava mancando, pensou no tio cego, no primo diabético, no melhor amigo alérgico a cebolas. Mas mesmo assim terminou pensando na namorada, que era mais feia do que velha leprosa.
- Já sei! Desejo que minha namorada seja muito bonita! Assim terei riqueza e beleza para mim.
- Assim será feito, jovem Fernando - disse Og - Você terá todo o dinheiro do mundo. Amanhã de manhã, quando acordar, verá um saco enorme de dinheiro debaixo da sua cama. Assim será para sempre na sua vida. Quanto a sua namorada, amanhã ele acordará lindíssima. 
Fernando agradeceu sorrindo e viu Og deixando o poço, partindo como um jato pelos céus. Ele, sorrindo e alegre como uma criança, voltou para casa e ansiosamente esperou cair a noite, para que dormisse. 
Quando acordou no outro dia, sua namorada ainda dormia ao seu lado na cama, com um travesseiro sobre o rosto. Olhou para debaixo da cama, babando, e viu um saco enorme de dinheiro. Ergue-o e parecia ter mil quilos. Abriu o saco e viu que haviam apenas um monte de tampas de garrafas e papel picado. 
Confuso e quase chorando, ele se virou para a namorada, tirando o travesseiro, viu que estava muito bonita, e ele se admirou com toda a sua enorme beleza. Por um tempo, achou que apenas aquele desejo funcionara. Mas ao tentar acordá-la, não conseguiu fazê-lo. Logo viu que ela estava morta.

Fernando encontrou em seus desejos apenas a sua ruína. 

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