9 de julho de 2016

O Pai



- Você me chamou, pai?
- Sim, Alberto. Venha, sente-se, meu filho.

O jovem franzino de expressão triste e perdida caiu na poltrona como uma pedra que cai num lago. Na sua frente estava seu pai, seu velho. Um homem de aparência sábia, com seu charuto e seus pés apoiados apoiados na pequena mesinha entre os dois.

A lareira queimava como o inferno, mas mesmo assim a sala era tenebrosa. Alberto engoliu seco enquanto via seu pai encarando-o com aqueles olhos opressores.

- Sabe porque está aqui, Alberto?
- Não, pai.
- Que pena.

O pai assoprou uma nuvem que engoliu o rosto do pobre Alberto.

- Por que a lareira está acesa? - disse Alberto.
- Algum problema?
- É que não está fazendo tanto frio assim.
- Estamos no sul do Brasil, Alberto. Somos sofisticados. - assoprou outra nuvem, dessa vez cobrindo o teto.

Silêncio. O relógio fazia tique e taque. O fogo queimava.

- Você gosta de sair nessa passeatas, não é? - disse o Pai.
- Sim.
- Pelo o que você luta?
- Pelo futuro.

Alberto dá uma tossida. O Pai olha, um tanto de desprezo.

- É uma besteira, filho. Uma besteira grande.
- Você já foi numa delas, pai?
- Nunca vou.
- Deveria.
- Não, eu não deveria.

Alberto coçou seu pescoço, talvez um mosquito. O velho Pai se ajeitava na poltrona, rasgada e antiga como ele.

- Eu te amo, Alberto. Sabe disso?
- Sim pai. Eu sei.

O jovem derreteu-se em tímidas lágrimas. O Pai era uma estátua.

- Mas por que você se importa tanto, pai? É apenas minha visão.
- Não vou tolerar.
- Mas pai, eu-
- CALA A BOCA!

As palavras do Pai ecoaram por aquela sala durante segundos. Até o fogo assentiu e recuou, deixando a sala ainda mais escura e assustadora.

- Você e seus amigos - disse o Pai - São um bando de depravados que apoiam um governo corrupto.
- Eu te amo pai.
- Não vou tolerar.
- Te amo, muito.
- Vocês são a escória.
- Mas pai...
- Chega.

Um estrondo agudo e metálico rompeu a quietude da sala. O fogo apagou. Trevas. Um tiro. Sangue. Morte. Só se viu um charuto se acender na escuridão. Uma baforada veio em seguida.

Houve um golpe, com certeza.

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