Se você perguntar para um leigo quem é o vilão de Guerra nas Estrelas, a resposta seria Darth Vader. Mas isso não é fato. O vilão da saga (os seis filmes, aqui excluo as sequências da Disney) é na verdade Palpatine (Darth Sidious, ou ainda O Imperador), já que é ele o responsável pela criação do Império e pela queda dos jedi.
Onde se encaixa Darth Vader então? É óbvio que ele é o protagonista, não só dos três primeiros filmes como também da trilogia original. É o conceito de vilão trágico. Vemos as origens de Anakin como um escravo em Tatooine, passando pelo seu treinamento na Academia, seu caso amoroso com Padme e enfim a sua transformação. Vendo todos os filmes da série sob um ponto de vista unificado, principalmente considerando o que acontece a ele no final de O Retorno do Jedi, fica claro que ele era mais uma vítima. Vou explicar direito.
Anakin nunca foi livre. Nunca. Na verdade ele foi, mas apenas nos últimos minutos da sua vida. Uma liberdade curta que ele mal chegou a desfrutar. Uma liberdade que ele nunca teve pois o garoto nasceu como escravo.
Crescendo sem pai e sendo criado sozinho pela mãe, a Shmi, Anakin tinha três anos quando foram comprados por Watto, um toydariano dono de uma loja de peças usadas em Mos Espa, Tatooine. Dois escravos.
Anakin viu futuro na vida como um jedi, já que a ele foi oferecida a oportunidade de ir treinar os caminhos dos cavaleiros da força em Curuscant com Qui-gon Jinn. Por um tempo ele se achou livre, mas continuava sendo subjugado pelos códigos da Ordem Jedi. A saudade que sentia da mãe era reprimida. O fascínio pela sua paixão de infância, Padme, também era mal vista por ele mesmo. Por muito tempo ele foi escravo de seus deveres. Para muitos é uma coisa nobre e para Anakin também era. Mas por causa disso ele perdeu a mãe.
Quando enfim virou um cavaleiro ele ainda não conseguiu se descorrentar. O Conselho nunca confiou nele. E então Palpatine começou a manipulá-lo e ele virou mais uma vez um escravo. Agora era um servo do medo, pois temia a morte da esposa no parto. Buscando desesperadamente uma maneira de impedir esse futuro horrível, ele se tornou aprendiz do Lorde Sith. Quando se deu conta, já era tarde.
"É tarde demais para mim, filho."
Somente no fim de sua vida ele conseguiu ser um pouco feliz. Quando traiu seu mestre a bordo da Estrela da Morte II, Darth Vader recebeu uma descarga fatal de eletricidade e sua armadura parou de funcionar, matando o Lorde Sith. Em suas últimas palavras para o filho Luke, Anakin pediu para olhar nos olhos do garoto. Naquele momento ele foi livre, pela primeira vez. Sem donos, sem mestres, sem coleiras, sem dor. Em paz. Livre.
Afinal, ele era humano.
Essa é a premissa por trás do personagem. Darth Vader é mal, mas ele também tem medo. Ele também sente dor, até mais que os mocinhos.
Em sua batalha contra Obi-wan em Mustafar, Anakin teve seus braços e pernas decepados. Seu corpo recebeu queimaduras terríveis e ele sofreu danos permanentes em seu corpo. Para garantir sua sobrevivência, Palpatine o vestiu com uma armadura negra, mais um computador. A vestimenta o mantinha vivo e reduzia suas dores, que ainda assim continuavam atrozes.
Mas por que Darth Vader fazia coisas tão bárbaras como matar dezenas de crianças e assassinar seus próprios generais? É porque ele se alimenta disso. Sua natureza má o mantém vivo, pois era o que Palpatine precisava para dominá-lo. Anakin já havia ido longe demais, por isso ele nem considerava a ideia de voltar para o lado bom da Força.
Podemos observar casos parecidos no mundo real. Assassinos que não apresentam distúrbios ou problemas mentais costumam ter razões emocionais complexas por trás de atrocidades cometidas por eles. Homicídios passionais são um exemplo. Também observa-se históricos trágicos em vidas de mass shooters, os atiradores que chegam a matar dezenas. Estes chegam a escrever manifestos inteiros relatando suas vidas frustradas e tristes e como os massacres cometidos serviriam como uma "retribuição".
Enfim, ao mesmo tempo que Anakino era uma máquina - ou melhor, um ciborgue - criado para servir o mal, um impiedoso e implacável comandante das trevas, ele também foi uma vítima e no final um herói quando matou o Imperador.

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