Era um ônibus velho, de péssima aparência. Parecia que ia desmoronar a qualquer momento. Mesmo assim eu entrei sem medo. Eu estava bastante cansado e queria chegar o quanto antes em meu destino. Apertei as alças de minha mochila e entrei.
Estava lotado. Cidade grande, não importava o horário o coletivo estaria sempre cheio. Me sentei perto da janela, o banco ao meu lado se tornou o único desocupado do veículo.
Logo veio um senhor e se sentou ali. Tinha uns sessenta anos, moreno, usava chapéu. Parecia uma boa pessoa.
E então o ônibus avançou, chacoalhando pelas ruas da cidade. Passamos por um prédio velho e abandonado e cercado de mato.
- Eu já morei ali - disse o homem que havia se sentado ao meu lado. O dedo enrugado dele apontava para o edifício no horizonte. E então ele começou a preparar um cigarro.
- Não pode fumar aqui - eu avisei.
- Nesse ônibus eu posso - ele respondeu secamente com aquela voz de velho - Quando e era jovem morei ali onde passamos. Fui expulso porque não consegui mais pagar o aluguel. - Deu uma baforada.
- É uma pena. Já aconteceu muita coisa triste comigo também - eu disse.
- Acontece com todos. Aonde vai?
- Vila da Cova Funda.
- Também - continuou fumando.
A noite chagava. Passamos por um bairro de classe média. Casas com garagens, ruas bonitas. Apontei para um residência.
- Minha namorada mora ali - eu disse.
- Deixa eu adivinhar: você está se mudando para Cova Funda por causa dela?
- Sim - eu respondi surpreso - Como sabe?
- Todos nesse ônibus estão indo para aquele bairro, garoto. Sempre é por causa de algo dos passado que os fez mal. Está vendo meu cigarro? Por causa dele estou me mudando.
- Não vejo bagagem sua - eu disse apertando minha mochila.
- Não preciso.
Continuou fumando. Já era noite e estava ficando cada vez mais frio. O motorista começou a parar o ônibus e várias pessoas começaram a sair em diferentes pontos.
- Esse é um ótimo bairro - o velho disse - É um bom lugar para descansar.
- Foi o que eu ouvi. Por isso estou nessa viagem. Minha namorada fez algo horrível para mim... Eu não aguentei.
- No meu caso fui eu quem condenou a mim mesmo - ele deu uma profunda baforada.
O coletivo já estava se esvaziando. Então parou bruscamente em uma rua escura e isolada.
- Chegamos - o velho disse.
- Também vou descer aqui - acrescentei.
E descemos. A escuridão era enorme. O ônibus acelerou e nos deixou sozinhos. No começo sentimos muito medo, mas então surgiu uma luz. Pensamos que fosse um carro, mas começou a englobar o horizonte inteiro e se tornou um enorme astro.
Meu coração se encheu de alegria, o medo havia ido embora. Eu olhei para o meu lado e o velho estava sorrindo.
- Estou tão cansado.
E caminhamos em direção à luz.
FIM
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