26 de setembro de 2019

Amor Inusitado


Se tem uma coisa em que nunca fui bom é namorar. Os meus relacionamentos sempre foram desastrosos, geralmente terminando com uma das partes bastante magoada. Não sei se as culpo ou se a culpa é minha. Acho que é mais minha pois sempre procurei em mulheres comuns um ideal que não existe, procurei minha vida toda uma mulher que fosse perfeita, mas descobri que essa criatura impecável talvez não existe. E, quem sabe, as pessoas estejam certas e o amor de nossas vidas ainda havemos de encontrar nas situações mais inusitadas.

Recentemente, estando eu mais economicamente estável, resolvi entrar neste universo do namoro mais uma vez. Afinal, quem não se interessaria em um homem solteiro, bonito (nunca me achei feio, ok?) e bem formado como eu? Desde que eu continue fiel a minha nova ideologia, isso é, me satisfazer com o mínimo, eu consiguirei uma namorada logo.

Então, eu baixei um app. É um app de namoro para celular. Coisa simples. Crio um perfil e procuro por moças solteiras perto de mim. Foi o que eu pensei, pelo menos. Dias se passaram e nenhuma nem me chamou no privado. Realmente, aquele ambiente era bem hostil para caras como eu. Portanto, achei que minha espécime fosse mais bem adaptada ao "mundo real". Então resolvi sair para encontrar meu amor. Porém, não deletei o aplicativo., ora, caçador monta armadilha e continua a caçar.

Fui em várias baladas, várias boates e bares. Conheci várias mulheres dos mais variados tipos. A Ângela era loira e alta mas não pareceu se interessar muito em mim (acho que eu era baixo demais para ela). A amiga dela, a Fernanda, gostou um pouco de mim, talvez tivesse dado certo se ela não tivesse vomitado em cima de mim. Outras eram distantes. Algumas eram irritantes. Depois de dias e dias eu parecia não encontrar a minha cara metade mesmo aplicando o método.

Mas então, um dia enquanto voltava para casa de cara cheia, sinti uma dor. Achei que fosse por conta da cerveja. Voltei para casa e no dia seguinte persistia. Era um dente. Não tive opção, era arrancar ou continuar me torturando. Enfim, como isso tudo se encaixa na história que eu estava contando? Foi no consultório do dentista que eu a vi.

Era linda. Tinha cabelos castanhos de cor de mel. Seus olhos eram duas pérolas e seu andar era o mais gracioso. No dia que conheci a Dra. Esteves eu mal falei com ela. "Meu dente lá do fundo tá doendo", foi uma das poucas coisas que a falei. Mas eu não consiguia parar de fitar seus lindos olhos enquanto ela brutalmente arrancava meu dente. Nem sentir dor, só paixão.

Mas embora ela tivesse roubado meu coração e meu fôlego (e meu dente) eu não tinha seu número de telefone ou outro contato. Não pensei em perguntar. Fiquei com medo, e se ela fosse casada? E se tivesse namorado? O que uma doutora iria querer com um cara como eu? Esses pensamentos passaram por minha cabeça.

Mas uns dias depois, enquanto eu estava em casa ainda mexendo no aplicativo de namoro, eu recebi uma notificação. Era de uma Luiza. Abri e, para minha supresa, era a mesma dentista que tinha arrancado meu dente. Os mesmos olhos. Tive que pôr o dedo sobre o sorriso para simular o uso da máscara. Era ela.

Fui para o banheiro e abri a boca na frente do espelho. Dei uma boa olhada nos meus dentes. Mal podia esperar para minha próxima consulta.

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