Neto era um detetive
particular. Seu trabalho consistia em investigar pessoas. Não era
incomum que ele trabalhassem com casos envolvendo supostas traições.
Por isso ele não ficou surpreso quando Gerson, um homem de trinta e
oito anos, um dia o telefonou com uma voz irritada querendo
contratá-lo para investigar os paradeiros da esposa todo sábado a
noite. Um encontro permitiu a Neto saber mais detalhes.
- Minha mulher se chama
Marcia e está escondendo algo de mim. - disse Gerson.
- Traição? - perguntava
Neto tirando uma caneta e um bloco de anotação do bolso.
- Acho que sim. E ela anda
esquisita atualmente. É todo sábado a noite. A Marcia diz que "vai
dar um passeio" e só volta tarde. Poxa, essa hora é a hora de
relaxar, não de andar por aí... não é mesmo, detetive?
- Claro... - Neto anotava
observações no seu bloquinho: sábado, noite, mulher louca.
Então o trabalho começou.
Naquele sábado Neto ficou estacionado perto da casa do casal até
bem de tarde. Quando era quase sete da noite ele ouviu uma
movimentação e viu Marcia saindo de casa e entrando no carro e
então indo embora. Neto foi logo atrás discreto como sempre para
não alertar a mulher.
A jornada foi longa, cerca
de vinte minutos. Para Neto parecia não ter fim. "Para onde
essa mulher vai?", se perguntava o detetive.
Ficou mais estranho quando
os dois foram saindo da cidade e ficando cada vez mais distantes de
qualquer casa. Era pior porque era noite e o cenário era de
escuridão. De repente a estada era de terra. Marcia parou na beira
de uma mata. Saiu do carro. "Que diabos é isso?", pensou
Neto.
Felizmente ela não havia
suspeitado que era seguida. Neto havia mantido uma boa distância e
tinha desligado os faróis. Ele pôde vê-la entrar na mata
fechada sem nenhuma lanterna, como que se soubesse para onde ir. Neto
não tinha opção, o seu trabalho era ir atrás dela.
A missão de ser discreto
e rápido para não perdê-la de vista foi bem difícil para o
detetive. Neto se arranhou muito naquela noite tentado abrir caminho
pelo mato. Mas depois de bastante esforço ele viu uma clareira e
havia uma fogueira acesa.
Coçando as feridas, Neto
se instalou atrás de uns arbustos e observou aquela cena que ficava
cada vez mais bizarra. Era uma dúzia de mulheres, algumas eram
apenas mocinhas e outras eram já eram quase idosas. Estavam todas em
volta da enorme fogueira que queimava no centro da clareira. Marcia
as cumprimentou com abraços e beijos na bochecha. Não deu pra ouvir
o que diziam antes de cada saudação, mas o detetive pôde ver que
elas falavam algo toda vez.
O que aconteceu depois daí
Neto nunca esqueceu. Todas as mulheres começaram a tirar suas
roupas. Uma delas apareceu com um boneco sinistro feito de pano que
lembrava um espantalho. Neto não conseguiu descrever bem. A figura
era grudada a uma estaca e foi cravado no chão ali mesmo no pé da
fogueira.
E então começou uma
festa. Metade das mulheres começou a dançar em volta do fogo. A
outra metade xingava o boneco de pano enquanto jogava pedras no pobre
coitado.
Neto mal acreditava no que
via. Era como uma reunião de bruxas. Vasculhava os bolsos quando
percebeu que tinha esquecido o seu celular. Ficou pensando como
alguém iria acreditar nele.
Quando virou a cabeça em
direção à clareira, viu que a inquietante cerimônia continuava.
Depois de alguns minutos ela finalmente cessou e as mulheres se
acalmara. Uma delas, talvez a mais velha, começou um discurso.
- Em breve, minhas queridas
irmãs, será o grande dia. Em breve consumiremos os homens em nossas
vidas. Nossos maridos e namorados que tanto odiamos em breve sofrerão
o nosso fogo. Em breve nos tornaremos monstros! - dizia a mulher para
as outras.
E então todas se
despediram com abraços e beijos na bochecha e começaram a se
vestir. Neto viu que era hora de ir embora dali e tinha que ser
rápido. Mais uma vez sentiu os galhos roçarem contra seu ombro já
ferido enquanto corria apressado para chegar até seu carro antes de
Marcia.
Quando olhou no relógio
viu que eram dez horas da noite. Pisando fundo, chegou na casa de
Gerson antes de sua esposa e foi contando a história toda para o
homem que mal acreditava.
- Bruxas?
- Não exatamente. Sua
esposa está metida em algum tipo de culto. - disse Neto, suando.
- Tem certeza? Isso é
loucura! - disse Gerson sem acreditar.
- Tenho certeza, e ela e
suas companheiras parecem odiar homens.
Mas não deu tempo de
terminar seu relato. Marcia estava estacionando o carro. Neto se
apressou e saiu pela janela. Foi embora e não dormiu direito naquela
noite. O que ele não sabia é que aquela seria a última vez que
falaria com Gerson.
Na manhã seguinte viu a
notícia de seu desaparecimento. Não só o dele, mas de vários
homens pela cidade. Quando ligou os pontos, Neto pôs as mãos na
cabeça e arregalou os olhos.
Foi até a casa de Gerson
mas e viu as viaturas estacionadas na frente e ouviu choros de
dentro.
Com toda aquela situação,
a única forma de se acalmar que encontrou foi tomando uma xícara de
café no conforto de casa.
Enquanto bebia, o detetive
pôde sentir as mãos frias e delicadas da namorada massageando seus
ombros. O beijo suave dela em sua bochecha lembravam-no de algo...
- Bom dia, amor.
Neto pulou de susto e quase
derramou o café.
- O que foi? Parece que viu
um monstro - ela perguntou.
- Talvez, meu bem, talvez.
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