Na cidade de São Fernando,
um município perdido no interior do país, diziam existir um
fantasma que aterrorizava o povo da região. Segundo os relatos, ele
cavalgava no último domingo de cada mês pelos terrenos das fazenda
de São Fernando e arredores. Alguns diziam que se tratava do
espírito de um vaqueiro que, desgostoso, pulara de seu cavalo em
movimento com a intenção de quebrar o pescoço. A população o
havia apelidado de Vaqueiro de São Fernando.
A história chamou a atenção
do jornal onde trabalho. Infelizmente, não fui designado para cobrir
a matéria, eu que sempre fui interessado em lendas sinistras de
cidades isoladas. Carlos, meu rival, foi escolhido para ir a São
Fernando e reportar sobre o Vaqueiro Fantasma. Sempre cobicei sua
posição na redação e a estima que tinha pelo resto da equipe,
então fiquei ainda mais revoltado com aquilo tudo.
Chegando ao município, a
história ficou esclarecida assim: o Vaqueiro Fantasma era visto todo
último domingo de cada mês. Era avistado cavalgando pelos pastos de
alguma fazenda ou propriedade da região. Segundo os que afirmavam
terem visto a aparição, tanto o Vaqueiro quanto a sua montaria
emitiam uma luz branca forte, como uma lâmpada. Não faziam nenhum
som, nem mesmo som de galope.
Mas o mais assustador, ou
interessante, que é como nós repórteres interpretamos as coisas,
era o desaparecimento das testemunhas do tal Vaqueiro. Um dos filhos
de Seu Antônio, dono do Sítio Alvorada, tinha sumido na noite em
que viu a alma penada. Outras casos como o de Dona Maria Conceição,
que segundo outras testemunhas tinha sido carregada pelo fantasma,
confirmavam o natureza hostil da espírito.
Além disso, Carlos
descobriu que, apesar de sumirem por completo, as vítimas
normalmente sempre deixavam algo de importante para trás, um
pertence. O filho de Seu Antônio tinha sido levado, mas ele deixou
sua carteira com mil reais. Dona Maria foi raptada, mas deixou a
carta de seu terreno para a sua única filha no exato local do rapto.
Era como se o Vaqueiro Fantasma estivesse deixando propositalmente
aqueles pertences como uma forma de consolo, talvez. Claro que não
era o bastante para amenizar a tristeza (e indignação) dos
habitantes de São Fernando.
Mas apesar de tudo apontar
que o Vaqueiro só tinha intenções maléficas, Carlos decidiu ficar
na cidade até o próximo domingo, que seria justamente o último
daquele mês. Instalou-se na beira de uma estrada com a camera em sua
mão. Ia com um policial ao seu lado (armado, caso se tratasse de
mais que um fantasma).
Ficaram lá até o cair da
noite. Passaram horas e Carlos já pensava em desistir daquele
"Scooby-Doo", ir embora e contar a todos os colegas do
jornal sobre uma lenda urbana de interior. Mas então, quando era
quase meia-noite, ele apareceu.
O que aconteceu foi contado
a mim pelo policial que acompanhava Carlos. Ele foi a única
testemunha.
Segundo o policial, o
Vaqueiro reluzia e tinha um brilho de fogueira. Cavalgava
rapidamente. Carlos o avistou no horizonte, no campo, achou que fosse
um carro. Estavam em alta velocidade. O policial sacou sua pistola e
até chegou a disparar contra a misteriosa criatura. Errou, o
cavaleiro era muito rápido. A aparição fez estendeu a mão e
agarrou o repórter pelo pescoço como se agarra um frango.
Aparentava uma força sobre-humana.
O policial enxugou os olhos,
incrédulo. Atirou mais duas vezes para livrar Carlos das garras do
espírito do outro mundo, mas suas balas simplesmente atravessaram o
corpo daquele ser, era intangível .
Quando se deu conta, o
fantasma havia carregado Carlos e sumia de vista entre as árvores do
outro lado da estrada. O meu rival, que segundo o policial ainda
resistiu e lutou contra a alma penada, deixou apenas seu bloco de
anotações e a sua câmera.
Cena do rapto amanheceu
cheia de pessoas. Todo mundo já comentava na cidade sobre o sumiço
de mais, obra do Vaqueiro Fantasma de São Fernando. Depois daquele
dia, os últimos domingos de cada mês eram tratados com um
sentimento de temor pela população, um temor verdadeiro, pois agora
havia um policial confiável com testemunha. O policial, talvez
traumatizado com o incidente, se aposentou um mês depois e foi morar
no litoral.
Quando a Carlos, ninguém
nunca chegou a saber o que aconteceu a ele. Se perguntam do que ele
morreu, dizem que foi pelas mãos de um cruel fantasma.
Mas parece que a lenda era
verdade. E como dizem, todos aqueles que desaparecem deixam algo de
valioso para trás. No caso de Carlos, ele deixou me deixou seu lugar
como repórter número um na redação.
Muito bom!
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