12 de março de 2020

O Vaqueiro Fantasma de São Fernando


Na cidade de São Fernando, um município perdido no interior do país, diziam existir um fantasma que aterrorizava o povo da região. Segundo os relatos, ele cavalgava no último domingo de cada mês pelos terrenos das fazenda de São Fernando e arredores. Alguns diziam que se tratava do espírito de um vaqueiro que, desgostoso, pulara de seu cavalo em movimento com a intenção de quebrar o pescoço. A população o havia apelidado de Vaqueiro de São Fernando.

A história chamou a atenção do jornal onde trabalho. Infelizmente, não fui designado para cobrir a matéria, eu que sempre fui interessado em lendas sinistras de cidades isoladas. Carlos, meu rival, foi escolhido para ir a São Fernando e reportar sobre o Vaqueiro Fantasma. Sempre cobicei sua posição na redação e a estima que tinha pelo resto da equipe, então fiquei ainda mais revoltado com aquilo tudo.

Chegando ao município, a história ficou esclarecida assim: o Vaqueiro Fantasma era visto todo último domingo de cada mês. Era avistado cavalgando pelos pastos de alguma fazenda ou propriedade da região. Segundo os que afirmavam terem visto a aparição, tanto o Vaqueiro quanto a sua montaria emitiam uma luz branca forte, como uma lâmpada. Não faziam nenhum som, nem mesmo som de galope.

Mas o mais assustador, ou interessante, que é como nós repórteres interpretamos as coisas, era o desaparecimento das testemunhas do tal Vaqueiro. Um dos filhos de Seu Antônio, dono do Sítio Alvorada, tinha sumido na noite em que viu a alma penada. Outras casos como o de Dona Maria Conceição, que segundo outras testemunhas tinha sido carregada pelo fantasma, confirmavam o natureza hostil da espírito.

Além disso, Carlos descobriu que, apesar de sumirem por completo, as vítimas normalmente sempre deixavam algo de importante para trás, um pertence. O filho de Seu Antônio tinha sido levado, mas ele deixou sua carteira com mil reais. Dona Maria foi raptada, mas deixou a carta de seu terreno para a sua única filha no exato local do rapto. Era como se o Vaqueiro Fantasma estivesse deixando propositalmente aqueles pertences como uma forma de consolo, talvez. Claro que não era o bastante para amenizar a tristeza (e indignação) dos habitantes de São Fernando.

Mas apesar de tudo apontar que o Vaqueiro só tinha intenções maléficas, Carlos decidiu ficar na cidade até o próximo domingo, que seria justamente o último daquele mês. Instalou-se na beira de uma estrada com a camera em sua mão. Ia com um policial ao seu lado (armado, caso se tratasse de mais que um fantasma).

Ficaram lá até o cair da noite. Passaram horas e Carlos já pensava em desistir daquele "Scooby-Doo", ir embora e contar a todos os colegas do jornal sobre uma lenda urbana de interior. Mas então, quando era quase meia-noite, ele apareceu.

O que aconteceu foi contado a mim pelo policial que acompanhava Carlos. Ele foi a única testemunha.

Segundo o policial, o Vaqueiro reluzia e tinha um brilho de fogueira. Cavalgava rapidamente. Carlos o avistou no horizonte, no campo, achou que fosse um carro. Estavam em alta velocidade. O policial sacou sua pistola e até chegou a disparar contra a misteriosa criatura. Errou, o cavaleiro era muito rápido. A aparição fez estendeu a mão e agarrou o repórter pelo pescoço como se agarra um frango. Aparentava uma força sobre-humana.

O policial enxugou os olhos, incrédulo. Atirou mais duas vezes para livrar Carlos das garras do espírito do outro mundo, mas suas balas simplesmente atravessaram o corpo daquele ser, era intangível .
Quando se deu conta, o fantasma havia carregado Carlos e sumia de vista entre as árvores do outro lado da estrada. O meu rival, que segundo o policial ainda resistiu e lutou contra a alma penada, deixou apenas seu bloco de anotações e a sua câmera.

Cena do rapto amanheceu cheia de pessoas. Todo mundo já comentava na cidade sobre o sumiço de mais, obra do Vaqueiro Fantasma de São Fernando. Depois daquele dia, os últimos domingos de cada mês eram tratados com um sentimento de temor pela população, um temor verdadeiro, pois agora havia um policial confiável com testemunha. O policial, talvez traumatizado com o incidente, se aposentou um mês depois e foi morar no litoral.

Quando a Carlos, ninguém nunca chegou a saber o que aconteceu a ele. Se perguntam do que ele morreu, dizem que foi pelas mãos de um cruel fantasma.

Mas parece que a lenda era verdade. E como dizem, todos aqueles que desaparecem deixam algo de valioso para trás. No caso de Carlos, ele deixou me deixou seu lugar como repórter número um na redação.

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