Seu Jacinto olhou
para a sua roça pela janela de sua casa. A roça era pequena, alguns
metros quadrados no fundo de seu quintal, mas era motivo de orgulho
para o velho senhor. Lembrava-se de um tempo em que aquilo tudo
significava muito mais para ele.
Analisou as paredes
da casa, tocando-as com as suas mãos morenas e enrugadas. O reboco
desgrudava-se dos tijolos, revelando a fundação rústica da antiga
residência. Ali já fora um dia tudo para seu Jacinto, aquele velho
homem. Ali tinha nascido e crescido, tinha brincado com os irmãos,
brigado com os irmãos, tinha construído sua família de seis
filhos, um lugar apertado mas bom para se viver.
Agora parecia uma
ruína.
Jacinto saiu. O sol
torrava a sua pele e o silêncio era agonizante. A vegetação ao
redor da sua casa, uma floresta de árvores retorcidas e escuras,
ainda mais com a dúzia de urubus sobrevoando o terreno em busca de
alguma carniça que Jacinto suspeitava ser ele mesmo, davam ao
ambiente uma natureza infernal e deprimente. Tudo parecia morto. Mas
seu Jacinto lembrava-se de quando aquilo era tudo vivo.
Lembrava-se de
quando o seu pai o levava para trabalhar na roça do seu Antônio,
milhas dali. Lembrava-se da primeira vez que montou num cavalo, de
quando casou-se, de quando teve o primeiro filho. Tudo naquela casa.
Mas agora estava vazia. Seus filhos todos tinham viajado para a
cidade e sua mulher já tinha falecido.
Entrou e voltou com
uma enxada. Estava tudo morto, mas seu Jacinto não aceitava. Pisou
na roça e começou a roçar e roçar, como fazia na juventude. Roçou
até seus braços tremerem, até começar a suar como um porco e a
lacrimejar como uma criança.
De repente, caiu no
chão, derrotado. Seu Jacinto olhou para o céu, os urubus estavam
descendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário